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“Passaporte vacinal serve somente como controle social”, afirma o médico Mário Rosas Filho

Mestre em doenças infecciosas e parasitárias também aborda efetividade das vacinas

 

Wilson Guardia

 

Mário Rosas Filho, coronel do Exército Brasileiro e médico mestre em doenças infecciosas e parasitárias, em entrevista exclusiva a este REPÓRTER, entra a fundo no debate sobre o passaporte vacinal e efetividade das vacinas disponíveis contra a covid-19. Pesquisas e estudos precisam avançar e imunizantes devem passar por atualizações para proteger contra a variante ômicron. Impactos na saúde mental da população também são analisados pelo especialista.

 

REPÓRTER: Doutor, a exigência do passaporte da vacina é eficaz para evitar a propagação do vírus?

 

MÁRIO ROSAS FILHO: “Como a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o CDC (Centro de Controle de Doenças) dos Estados Unidos reconhecem que as vacinas não impedem a transmissão entre pessoas e tampouco a infecção, avaliamos que o “passaporte vacinal” carece de valor científico, mas serve tão somente ao controle social, que visa a obrigar pessoas a se vacinarem, sem considerar antecedentes prévios de alergias, distúrbios da coagulação sanguínea ou a própria vontade do paciente, a qual entendemos que sempre deve ser respeitada. O passaporte vacinal confere imunidade para entrar em eventos e ambientes de maior aglomeração, a quem mesmo vacinado pode estar infectado e transmitindo o vírus. Além de criar uma política de segregação  entre as pessoas, uma espécie de “apartheid vacinal”, algo que a sociedade do século 21 deveria abominar”.

 

REPÓRTER: Qual a efetividade das vacinas quanto ao risco de internação e evolução de casos graves da doença?

 

MÁRIO ROSAS FILHO: “Existe no momento apenas a perspectiva que as atuais vacinas reduzam o risco de casos graves e internações, porém ainda não foram publicados estudos conclusivos a respeito do assunto. Por outro lado, ainda que sejam experimentais as vacinas são válidas como uma das principais ferramentas da Saúde Pública no enfrentamento a covid, atuando como “barreira imunológica”, a despeito da premente necessidade de atualização agregando às novas variantes, em especial a ômicron.”

 

REPÓRTER: Pessoas vacinadas ainda podem transmitir o vírus?

 

MÁRIO ROSAS FILHO: “Sim, pois o vírus consegue se multiplicar nas vias respiratórias dos vacinados e, assim, pessoas imunizadas podem transmitir o vírus tanto quanto aquelas não vacinadas, essa evidência científica reforça a inutilidade da exigência do passaporte vacinal. Vale ressaltar, que toda vacina requer um tempo de observação clínica mínima de quatro a cinco anos e que possibilitem sua análise mediante estudos científicos consistentes”.

 

REPÓRTER: As atuais vacinas funcionam de forma eficaz na prevenção da variante ômicron?

 

MÁRIO ROSAS FILHO: “Infelizmente não, porque todas as vacinas disponíveis estão, do ponto de vista de imunogenicidade, defasadas, pois foram desenvolvidas baseadas no SARS Cov-2 original, oriundo da China, e por isso precisarão ser atualizadas. Inclusive o CEO (chief executive officer, o similar a diretor executivo) da Pfizer, Albert Bourla, afirmou em entrevista recente que será lançada uma versão atualizada da vacina a partir de março do corrente ano capaz de assegurar cobertura para outras variantes inclusive a ômicron”.

 

REPÓRTER: É possível mensurar o impacto do medo na saúde mental da população causado pela pandemia?

 

MÁRIO ROSAS FILHO: “No momento não dispomos de dados estatísticos no Brasil para avaliar a dimensão dos danos à saúde mental da população. Mas em nossa prática médica observamos nos últimos dois anos um aumento significativo dos casos de doença mental, em especial, ansiedade e depressão. Afinal, o ser humano é em essência biopsicosocial, isto é, necessita de condições adequadas de bem-estar físico e psicológico para interagir e socializar presencialmente e não somente remotamente com outros seres humanos. A evolução da humanidade deve-se em grande parte à capacidade de adaptação e de cooperação entre as pessoas. O isolamento social aprofundou os conflitos familiares, a solidão, estimulou o pessimismo, usurpou sonhos e evidenciou tendências suicidas. Percebemos que pacientes que estavam estáveis há vários anos entraram em crise, além disso, surgiram novos pacientes psiquiátricos em todas as faixas etárias. Porém, chama-nos a atenção o aumento na demanda de crianças e jovens para tratamento psicológico e psiquiátrico”.

 

REPÓRTER: Na sua opinião quais foram os principais equívocos cometidos no combate à pandemia?

 

MÁRIO ROSAS FILHO: “Sem dúvida que os erros surgiram a partir da desinformação, os governos não estabeleceram uma política adequada de educação e informações estratégicas em saúde, ao contrário divulgaram ou estimularam práticas sem qualquer eficácia, tais como, higienizar com álcool compras do supermercado, colocar tapete com água sanitária na entrada das casas, instalar túneis de desinfecção de pessoas, proibir que as pessoas caminhassem em praias e praças praticamente vazias, reduzir o transporte coletivo aglomerando as pessoas e, portanto, aumentando exponencialmente o risco de transmissão, entre outras. Usar o medo com instrumento educacional jamais poderia dar bons frutos no combate à pandemia. Na Segunda Guerra Mundial Winston Churchill derrotou o Nazismo encorajando, motivando e trazendo esperança à população do Reino Unido, será que teria o mesmo sucesso se tivesse apostado no medo?”.

 

 

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