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São Caetano perde espaço e vai virar Diadema em cinco anos

O jornalista Daniel Lima - Capital Social, brinda os leitores do ABC Repórter com importante análise sobre "o decantado cisne branco São Caetano". Ele prevê que a cidade vai virar o estigmatizado patinho feio Diadema dentro de cinco anos.

  DANIEL LIMA – 16/06/2020

O decantado cisne branco São Caetano vai virar o estigmatizado patinho feio Diadema dentro de cinco anos. Não mais que isso. Você vai entender a transformação, em plena execução, e que se resume na seguinte conclusão: o PIB do Consumo por habitante de São Caetano será igual ou até mesmo inferior ao de Diadema em 2025 caso aconteça o que é mais que provável.

 

E o mais provável é que o ritmo de empobrecimento de São Caetano na última década seja repetido nos próximos cinco anos. Alguém tem dúvidas? Então, prepare-se para entender.

 

Antes é preciso explicar que não existe mágica interpretativa na projeção de cisne branco e patinho feio se encontrarem e as próprias identidades metafóricas se sobreporem em empate técnico. Há sólido encaminhamento econômico nesse sentido. São Caetano recua na acumulação de riqueza da população na contabilidade por habitante. Diadema avança. Por quê? É a economia, estúpido!

 

Indicador importante

O PIB do Consumo é uma medida (como expliquei no texto de ontem e de tantas outras edições ao logo dos últimos 30 anos de LivreMercado-CapitalSocial) que exprime a capacidade individual (e também coletiva) dos moradores de um determinado Município gastar numa temporada anual.

 

Quanto mais uma cidade acumula riquezas em forma de renda e de patrimônio, mais eleva a média do PIB do Consumo por habitante. Pois é essa a questão que está mais uma vez posta, agora com o confronto entre São Caetano e Diadema.

 

Decidi produzir um embate entre os dois endereços porque há contrastes históricos a separá-los. São Caetano foi forjada no século passado pela força e a cultura de imigrantes. Diadema explodiu em ocupação urbana a partir dos anos 1960 com a chegada de correntes volumosas de migrantes, sobretudo do Norte e Nordeste, além de Minas Gerais.

 

Ultrapassagem certa

Provavelmente os moradores de São Caetano vão ficar estupefatos com a projeção de empate ou ultrapassagem de Diadema. Ficarão ainda mais inquietos ao tomarem conhecimento de que a projeção é uma maneira suave de tratar o empobrecimento médio da população.

 

O que vem aí nos próximos cinco anos é quase certeza absoluta, carregada pelas durezas dos últimos 10 anos. São Caetano não poderá mais olhar para Diadema como primo pobre em acumulação de riqueza individual.  Já hoje seria um exagero. Em 60 meses, um absurdo.

 

Em 2010, quando Lula da Silva ocupava pelo último ano a presidência da República, São Caetano detinha enorme vantagem sobre Diadema no PIB do Consumo por habitante. Pense numa goleada. Era exatamente isso que se dava.

 

Eram R$ 27.209,36 ante R$ 13.357,56. Uma diferença de 51,27%. Uma baita vantagem. Já nesta temporada de 2020, o PIB do Consumo per capita de São Caetano é R$ 31.209,13, ante R$ 26.228,19. O que eram 51,27% de vantagem caiu para 15,96%. Um tombo de 3,351 pontos percentuais por ano. Ou 35,31 pontos percentuais em 10 anos.

 

Vantagem escassa

É importante seguir os números com atenção para que não se perca o capítulo mais importante dessa história de cisne e patinho. O empate técnico ou mesmo a vantagem do PIB de Consumo per capita de Diadema sobre São Caetano vai acontecer em 2025. Os 15,96% de vantagem atual se diluirá ao ritmo de 3,55% ao ano e, em cinco anos, acabará. Basta, repita-se, que os últimos 10 anos da década apurada se reproduzam em proporções médias nos próximos cinco anos.

 

O mais importante nessa equação toda que pode parecer um tiro frontal na qualidade de vida que São Caetano expõe ao Brasil inteiro é que o potencial de consumo per capita (nomenclatura oficial do PIB do Consumo, conforme especialidade da Consultoria IPC) é uma medida específica de acumulo de riqueza financeira retratada pelas condições materiais de cada morador. Ou seja: não remete a referencial obrigatório de infraestrutura urbanística e também de infraestrutura social.

Consumo e história

São Caetano não deixará em cinco anos de exibir superioridades visíveis e invisíveis ante Diadema. Essa é uma obra de um século. Entretanto, registrará mais uma longa temporada em que a manutenção do padrão socioeconômico se degradará. Como tem se degradado nas últimas quatro décadas de desindustrialização sem reposição de matrizes econômicas satisfatórias.

 

São Caetano virou uma cidade de serviços de baixa valor agregado. De salários cada vez mais baixos. Já mostramos isso em outros textos. E voltaremos a explorar essas nuances nos próximos capítulos.

 

São Caetano sofre de asfixia econômica a cada nova temporada. E não reage. Nada se articula para dar uma cara econômica a São Caetano. Vive-se do terminal da Petrobrás, da General Motors e da Casas Bahia, sobretudo. E também de elevadíssima carga tributária municipal. Tema sobre o qual já expusemos dados aterradores. São Caetano é uma cidade cara. E obsoleta quando o horizonte é a modernidade econômica. Custa muito e espanta investidores privados.

 

Mais receita pública

São Caetano ganha receitas públicas municipais para compensar as perdas de repasses do Estado. E perde capacidade de consumo. Cria uma burocracia estatal e sacrifica a mobilidade social em proporções muito maiores que outros municípios.

 

Embora não seja, portanto, um pó de pirlimpimpim que faria de Diadema uma São Caetano num passe de mágica (ou em 15 anos, para ser mais preciso), o PIB do Consumo por habitante é relevante para confrontar o dinamismo econômico de endereços distintos. E nesse caso, Diadema está caminhando para superar São Caetano. Algo impensável no começo deste século. Descartável há 10 anos. Probabilíssimo nos próximos cinco anos.

 

Na medida em que ele eleva a média do valor do Potencial de Consumo por habitante a ponto de ter como perspectiva próxima empatar e superar São Caetano, Diadema torna-se mais atrativa a investimentos econômicos. Afinal, com quase três vezes mais habitantes, passa a contar com massa de recursos individuais para consumo que desperta o interesse de investimentos diversos, sobretudo do varejo.

Diferenças estreitas

Enfim, são muitas as variáveis que se abrem e engrossam o caldo de vantagens de Diadema sobre São Caetano como consequência de equilibrar e mesmo superar a concorrente no PIB do Consumo per capita e de contar com população muito maior.

 

As diferenças socioeconômicas entre São Caetano e Diadema já foram imensas. Aos poucos estão se estreitando. E vão perdendo musculatura a cada nova temporada.

 

Em 2010, base desses estudos sobre o Potencial do Consumo por habitante envolvendo os dois municípios, São Caetano contava com 13,4% de famílias de classe rica que consumiam 40% de tudo que o Município acumulava. Diadema contava com 3,9% de famílias ricas que consumiam 16,2% do total. Já em 2020, São Caetano contava com 6,6% de famílias ricas que consumiam 21,4% do total. Diadema totalizava 1,7% de famílias ricas, responsáveis por 10,3% do consumo geral.

 

Perdas econômicas

Nota-se que os dois municípios (como de maneira geral no Grande ABC e no País) perderam participação relativa da classe rica no universo dos moradores, mas o caso de São Caetano é mais grave. Foram 50,74% de baixas físicas (ou seja, de famílias) e 46,5% no volume de dinheiro disponível. Já Diadema sofreu baixa de 51,28% no número de famílias ricas e de 36,42% no volume de dinheiro. Nota-se, portanto, que a perda relativa é maior em São Caetano. Ou seja: desapareceram mais recursos financeiros de famílias de classe rica em São Caetano do que em Diadema.

 

Houve também mudanças entre as famílias de classe média-alta e de classe média-média. Em 2010, São Caetano contava com 34,1% de famílias desse estrato econômico, que representavam 48,5% do total de consumo da população. Diadema registrava 35,0% de classe média-alta e classe-média, que representavam 51,0% do consumo geral. Dez anos depois, São Caetano passou a contar com 35,0% de famílias desse estrato econômico que contam com potencial de consumo de 49,7% do total. Diadema registra 21,6% de famílias desse estrato este ano, abaixo, portanto de 10 anos atrás, as quais representavam 39,3% do consumo total.

 

Na Classe C, que poderia ser rotulada de proletariado, São Caetano registrava em 2010 o total de 44,2% das famílias, que consumiam apenas 11,9% do total do Município. Já Diadema, com 52,8% de proletários, registrava no mesmo ano 27,4% do total do PIB do Consumo. Neste ano, o proletariado de São Caetano representa 42,6% das famílias, com participação de 23,5% no consumo geral, enquanto em Diadema são 55,2% da população e 42,9% do consumo.

 

Nota-se que houve crescimento desse estrato social nos dois municípios, sobretudo no consumo frente às demais modalidades de moradores. São Caetano mais que dobrou o consumo. Diadema avançou menos. Trocando em miúdos: São Caetano proletarizou-se mais acentuadamente que Diadema.

 

Crescem excluídos

Para completar, entre os excluídos, formados de pobres e miseráveis, a participação no conjunto das famílias de São Caetano em 2010 era de 8,4% contra 14,3% de Diadema. Em termos de consumo, esse estrato social representava apenas 1,6% de tudo que São Caetano potencialmente gastava, enquanto em Diadema eram 4,4%. Já neste ano, São Caetano conta com 16,8% da população na faixa de excluídos, enquanto Diadema subiu mais levemente em relação a 2010, com 21,6%. Ou seja: enquanto em São Caetano a população de pobres e miseráveis aumentou em 73,80% no conjunto de moradias, em Diadema o crescimento não superou 28,57%.  No consumo, 5,4% dos excluídos participam do bolo de consumo em São Caetano, ante 7,5% em Diadema.

 

Trocando em miúdos: em 2010, entre famílias de classe rica, classe média-alta e classe média-média, São Caetano contava com 47,5% do total de moradores que consumiam 88,5% do bolo municipal. Em Diadema, em 2010, ricos, classe média-alta e classe média-média eram 38,9% do total de moradores e 67,2% do poder de consumo. Neste 2020, São Caetano conta com 40,5% de moradores das três classes mais abastadas (queda de 14,73% ante 2010), as quais consumem 71,1% do total (perda de 19,66% no período. Já em Diadema, são 23,3% de famílias mais abastadas (perda de 40,10% ante 2010) que representam 49,6% do consumo geral (perda de 26,19% ante 2010).

 

Os dois estratos menos afortunados da população (proletariados, pobres/miseráveis) representavam em 2010 o total de 52,6% dos moradores de São Caetano e 67,1% em Diadema. Na outra ponta, neste 2020, São Caetano passou a contar com 59,4% desses estratos enquanto Diadema soma 76,8%. Ou seja: houve crescimento de 14,5 pontos percentuais em São Caetano e 9,7 pontos percentuais em Diadema no universo desses dois estratos econômicos.

 

Quanto ao consumo relativo, o proletariado, os pobres e os miseráveis de São Caetano consumiam 13,5% do total em 2010, enquanto em Diadema eram 31,8%. Já neste 2020 são 28,9% de consumo das classes menos favorecidas em São Caetano, enquanto em Diadema são 50,4%. São Caetano aponta crescimento do consumo dos menos favorecidos de 114,74% em 10 anos, enquanto em Diadema são 58,49%. Nada mais natural para quem ganhou mais famílias de excluídos proporcionalmente à população geral.

 

A tradução desses números é que São Caetano teve maior choque de consumo quando se definem as categorias econômicas. Perderam-se ricos, a classe média-alta e a classe média-baixa. Aumentaram os contingentes de proletários, pobres e miseráveis. Daí Diadema estar nos calcanhares do cisne branco. Os próximos cinco anos serão ainda mais esclarecedores. E preocupantes.

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Walter Estevam

Casado, Publisher do Jornal ABC Repórter e da TV Grande ABC, Presidente da ACISCS, Ex-Presidente da ADJORI, Ex-Presidente da ABRARJ, Ex-Professor Faculdade de Belas Artes de São Paulo, Jornalista, Publicitário, Apresentador dos programas 30 Minutos e Viaje Mais.

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