Calote da gestão Paulo Serra com a Fundação do ABC é de R$ 133 milhões

A Prefeitura de Santo André, da gestão do prefeito Paulo Serra (PSDB), tem rombo de R$ 133 milhões na Fundação do ABC, Organização Social que gere os equipamentos públicos de Saúde da cidade. Com o calote e a consequente afronta aos contratos vigentes, quem paga é a população, que já sofre as consequências com a interrupção de serviços e a queda de qualidade no atendimento.

O Repórter teve acesso a documentos que comprovam a situação.  Portanto, o passivo foi aumentando mês a mês neste ano, com repasses à Fundação sempre em valores inferiores ao previstos para suprir os contratos.

A irresponsabilidade administrativa da gestão tucana já resultou na demissão de 211 médicos que trabalhavam nos hospitais e Unidades de Saúde de Santo André. E com um detalhe sórdido: a Prefeitura sequer pagou as verbas rescisórias aos profissionais.

A maioria dos moradores, que depende de atendimento do SUS (Sistema Único de Saúde), já sente na pele o resultado dos estragos provocados pelo calote. O desmonte afeta a manutenção de programas e serviços, de simples procedimentos à realização de cirurgias de emergência. Tudo isso em meio à pandemia.

A reportagem esteve em hospitais e unidades de Saúde municipais nesta semana. O cenário é de terra arrasada. Falta o básico.

“O atendimento piorou muito. Minha mãe deu entrada no Centro Hospitalar com febre e vômito. Depois de mais de 7 horas esperando, disseram que era virose e deram soro. Ela não melhorou. Uma enfermeira chegou a dizer que pode ser covid-19 e que ela precisa fazer mais exames, mas não fazem. Até agora não tenho um diagnóstico preciso. Tenho medo da minha mãe morrer por falta de atendimento adequado”, lamenta a doméstica Maria da Conceição.

Outros pacientes relataram a demora para a realização de simples consultas. Após as demissões de mais de 200 médicos, a espera para passar com um pediatra ou um ortopedista, por exemplo, pode chegar a 1 ano.

Entretanto, questionada, a Fundação ABC confirmou o montante da dívida. “Conforme levantamento apresentado na reunião do Conselho de Curadores de 21/10/2021, o município de Santo André mantém restos a pagar à FUABC em quatro contratos já encerrados. A soma dos valores desses contratos encerrados considera período desde 2009 e é de aproximadamente R$ 133 milhões, de acordo com atualização contábil realizada em agosto de 2021”, descreve nota oficial da instituição.

Detalhou ainda que: “Em relação aos contratos vigentes com a Prefeitura de Santo André, a Fundação do ABC informa que os repasses financeiros estão ocorrendo e não houve nenhum tipo de interrupção, tampouco prejuízo, ao atendimento da população do município, incluindo usuários do CHM (Centro Hospitalar Municipal Newton da Costa Brandão). Na manhã de segunda-feira (25/10), o prefeito Paulo Serra e a presidente da FUABC, Adriana Berringer Stephan, estiveram reunidos para discutir ajustes na atual parceria e avançar em questões estratégicas relacionadas aos contratos de gestão na área da Saúde. Ficou definido que uma comissão de acompanhamento com membros da Prefeitura de Santo André e da Fundação do ABC trabalhará em conjunto para a convergência de pontos nos âmbitos assistencial, financeiro e de planejamento. Integram a comissão por Santo André os secretários Pedro Seno, Márcio Chaves e José Police Neto. Pela FUABC estão as dirigentes Adriana Berringer Stephan, Patrícia Veronesi e Paula de Oliveira Branco“, complementa a nota.

Confira abaixo a nota da PREFEITURA de Santo André

“A Prefeitura de Santo André e a Fundação do ABC reforçam alinhamento para a potencialização e melhoria na prestação de serviços públicos de Saúde, realizados em parceria entre o município e a instituição.

Na manhã desta segunda-feira (25/10), o prefeito Paulo Serra e a presidente da FUABC, Adriana Berringer Stephan, estiveram reunidos para discutir ajustes na atual parceria e avançar em questões estratégicas relacionadas aos contratos de gestão na área da Saúde. Ficou definido que uma comissão de acompanhamento com membros da Prefeitura de Santo André e da Fundação do ABC trabalhará em conjunto para a convergência de pontos nos âmbitos assistencial, financeiro e de planejamento.

Integram a comissão por Santo André os secretários Pedro Seno, Márcio Chaves e José Police Neto. Pela FUABC estão as dirigentes Adriana Berringer Stephan, Patrícia Veronesi e Paula de Oliveira Branco.

Além disso, a Prefeitura e FUABC reforçam, ainda, que os repasses financeiros foram retomados e que não há interrupção, tampouco prejuízo, ao atendimento da população de Santo André no CHM (Centro Hospitalar Municipal Newton da Costa Brandão).

A administração municipal e a Fundação do ABC mantêm diálogo constante e relação de transparência, que marcam a colaboração nos serviços públicos prestados à Saúde, com o intuito de evoluir e melhorar cada vez mais o atendimento oferecido aos andreenses.

VEREADORES

O Repórter contatou todos os 21 vereadores para comentar. Apenas o parlamentar de oposição Ricardo Alvarez (Psol) foi o único a se pronunciar.

Certamente, “Não apoio calote de forma alguma. Este valor é resultado de um contrato assinado entre as partes e deve ser cumprido ou renegociado, se for o caso. Já apresentei um pedido de CPI para investigar os gastos com a saúde e a pandemia, mas infelizmente não teve as assinaturas necessárias. Continuo apresentando requerimentos de informação. Provavelmente sou o vereador que mais fiscaliza o Prefeito através deste instrumento. Não sou a favor da demissão. A disputa política entre os prefeitos Serra, Morando e Campanella pelo controle da central de concursos da FUABC contaminou as relações e gerou estas aberrações na área da Saúde em plena pandemia”, discorreu.