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Morando muito à frente de prefeitos, Bolsonaro e Doria

 DANIEL LIMA

 

Os números são do Instituto ABC Dados de Pesquisas, e foram publicados na edição de ontem do Diário do Grande ABC. O trabalho avaliou o desempenho do presidente Jair Bolsonaro, do governador João Doria e dos sete prefeitos da região em relação à gestão dos respectivos territórios no enfrentamento à Covid, o vírus chinês. O resultado mais importante não foi destacado pelo jornal, mas o coloco no altar da interpretação sem maquiagem: Orlando Morando, prefeito de São Bernardo, é o campeão em eficiência.

Vamos aos finalmentes para mostrar que Orlando Morando deu um baile nos demais prefeitos, em Doria e em Bolsonaro.

Considerando-se os quesitos “ótimo” e “bom”, limites mais que saudáveis à aprovação, os números são os seguintes:

 Orlando Morando com 65%, dos quais 20% de ótimo e 45% de bom.

 Paulinho Serra (Santo André) com 24%, dos quais 14% de ótimo e 20% de bom.

 Tite Campanella (São Caetano) com 23%, dos quais 5% de ótimo e 18% de bom.

 José de Filippi Júnior (Diadema) com 17%, dos quais 4% de ótimo e 13% de bom.

 Marcelo Oliveira (Mauá) com 20%, dos quais 9% de ótimo e 11% de bom.

 Clóvis Volpi (Ribeirão Pires) com 45%, dos quais 10% de ótimo e 35% de bom.

 Claudinho da Geladeira (Rio Grande da Serra) com 47%, dos quais 47% de bom.

 Jair Bolsonaro com 23%, dos quais 13% de ótimo e 10% de bom.

 João Doria com 19%, dos quais 4% de ótimo e 15% de bom.

Mídia faz diferença

No computo geral de ótimo e bom, os prefeitos do Grande ABC se saíram melhores que os concorrentes João Doria e Jair Bolsonaro. São 38% contra 23% do presidente da República e 19% do governador do Estado.

A distância que separa os titulares de cada Paço Municipal do assédio midiático por que passam Doria e Bolsonaro ajuda a explicar a diferença dos resultados que, convenhamos, também não é tão larga assim. Exceto os números registrados por Orlando Morando e Clovis Volpi.

Não dá para confrontar o nível crítico, de exigência, de independência, da mídia regional e do que enfrentam tanto o governador quanto, principalmente, o presidente da República.

São Caetano pior

Fossem mais acossados por uma imprensa em geral menos condescendente, os prefeitos do Grande ABC, quase todos, se veriam em maus lençóis. Os níveis de letalidade do vírus chinês na região não são tão diferentes do que o Estado de São Paulo e o Brasil como um todo mostram. São Caetano é o caso regional mais grave e completamente fora da curva. As especificidades colocam o Município na sarjeta numérica de óbitos.

Um quarto da população acima de 60 anos, densidade demográfica elevadíssima e mobilidade metropolitana agravam os erros de planejamento e ações especificas para esse conjunto de exclusividades.

Identidade frágil 

Os números do Instituto ABC Dados só confirmam uma das questões que listei entre as principais enfermidades da Síndrome de Avestruz do Grande ABC: estamos perdendo a identidade regional que, convenhamos, jamais foi lá essas coisas. E isso resulta em vários pontos, entre os quais o afrouxamento da vigilância às autoridades municipais em casos excepcionais como o da Covid e em situações corriqueiras da política, da economia e de tantas coisas.

A diferença entre o grau de cobrança às esferas executivas durante esse período prolongado e alucinante do vírus chinês está mais escancarada com números referentes ao critério de “ruim” e “péssimo”. Acompanhem:

 Orlando Morando com 16%, dos quais 7% ruim e 9% péssimo.

 Paulinho Serra com 24%, dos quais 16% de ruim e 8% de péssimo.

 Tite Campanella com 39%, dos quais 20% ruim e 19% péssimo.

 José de Filippi Júnior com 42%, dos quais 22% de ruim e 20% de péssimo.

 Marcelo Oliveira com 57%, dos quais 35% de ruim e 22% de péssimo.

 Clovis Volpi com 12%, dos quais 11% ruim e 1% péssimo.

 Claudinho da Geladeira com 32%, dos quais 15% ruim e 12% péssimo.

 Jair Bolsonaro com 71%, dos quais 9% de ruim e 62% de péssimo.

 João Doria com 45%, dos quais 16% de ruim e 29% de péssimo.

Regular não conta

Dispenso dessa análise a avaliação do critério “regular. Os institutos de pesquisa insistem em manter janela aberta ao comodismo dos entrevistados. “Regular” tanto pode ser com viés positivo como com viés negativo.

Para quem tem mais aprovação em forma de “ótimo” e “bom”, ou para quem tem prevalecimento de “ruim” e “péssimo”, a incidência de “regular” pode ser respectivamente mais de aprovação do que de reprovação ou exatamente o contrário. Mas nada garante que essa interpretação está correta. “Regular positivo” e “Regular negativo” eliminariam a dúvida.

Enfim, o desempenho do presidente da República é um caso excepcional, de registro mínimo da alternativa “regular”, com apenas 5% dos entrevistados. Os números gerais não deixam dúvida. Bolsonaro fez da pandemia uma companhia destrutiva. Fez tantas trapalhadas que salvou a pele dos demais gestores públicos. Menos de João Doria que, ao seguir caminho exatamente oposto, da ciência,  colhido em flagrantes delitos de inapetência comunicativa. Mas isso é outra história.

Ciumeira regional 

Fico a imaginar o que os números do ABC Dados provocou de ciumeira no mercado de vaidades políticas da região. Independentemente desses números de atividade exclusiva, caso da crise sanitária, a aprovação de Orlando Morando não e nada surpreendente quando, por exemplo, confrontada com Paulinho Serra e Tite Campanella. Ainda mais, os resultados das eleições municipais destilaram a falsa ilusão de que haveria na região, após quatro anos de mandato dos três tucanos, uma reviravolta avaliativa do eleitorado.

Vou ser explicito: Paulinho Serra e seus apoiadores caíram na besteira de acreditar que são lideranças da região. Por mais que Orlando Morando esteja longe disso, até porque é fortemente um prefeito apenas municipal, sem viés regional, nem se compara a gestão que empreende com qualquer outro prefeito igualmente municipal.

A forçada de barra em tentar retirar de Orlando Morando o peso maior de qualidades e de responsabilidades públicas de executivos do Grande ABC é um tiro duplamente pela culatra da racionalidade. Primeiro porque ao eleger Paulinho Serra como preferido e protegido, estabelece-se métrica da mediocridade ao alcance de todos os demais. Segundo porque ao retirar de Orlando Morando o peso maior de responsabilidades, o espectro de desmonte da governança regional vira tormento ainda maior.

Afinal, os números do Instituto ABC Dados não influenciam em nada essas conclusões. É tão notória a superioridade de Orlando Morando sobre os demais (agora os concorrentes José de Filippi Júnior e Clóvis Volpi, experientes, podem animar o baile regional) que o mal-estar gerado pela pretendida imposição dos raros dotes de gestor público de Paulinho Serra é latente. O divisionismo no interior do Clube dos Prefeitos é uma das consequências.

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