Um primeiro passo importante é entregar o Palácio da Cerâmica a quem de direito, justo e honesto. Os demais passos, por enquanto, serão de um cômodo ao outro em apartamentos e no máximo, um passo para o quintal para aqueles que moram em casa.
Agora uma observação interessante: considerando a sociedade como um indivíduo, então ela é viciada, como todos os seres humanos individualmente tem um tipo de vício. Dê nome ao vício: açúcar, chocolate, sal, fritura, álcool (de uso interno e externo), drogas lícitas e ilícitas, remédios, carros, dinheiro, poder, sexo, dê nome ao vício. O que está acontecendo é que a realidade do Covid-19 colocou a sociedade em abstinência. A sociedade se abstém, no momento, de se fartar. Na verdade ainda não está faltando os itens de nossos vícios.
Sendo assim, o que estamos vivenciando começa a responder a pergunta: Quanto é o suficiente? Antes do vírus a sociedade estava “bombando”, num pique acelerado, entregue ao possuir, obter, consumir, até mesmo sem precisar. Um pique de se empanturrar de tudo como se fosse acabar, saciando seus vícios. O dólar, o PIB, a Bolsa, o lucro a qualquer custo ditavam o pulsar da vida, sendo vivida como “business as usual”, ou a economia selvagem no domínio da alma tomando conta de quase tudo.
De repente, parou tudo. Sem poder alimentar o vício, percebemos como é difícil a síndrome de abstinência. Nunca vi tão na prática o ditado: “se correr o bicho pega se ficar o bicho come”. O próximo passo agora é a adaptação, a capacidade de resiliência e a aceitação. Não será uma adaptação coletiva, mas sim,cada um a se adaptar à sua realidade seja lá qual for ela. Além disso, a capacidade de resiliência também estará relacionada à realidade de cada um diante dos eventos no meio ambiente. Sendo assim, a aceitação é que será um exercício difícil para muitos e aproveito aqui para dizer que existem muitas maneiras de morrer sem ser a de tirar a própria vida. Estejamos atentos para pisar certo com nossos passos no caminho correto que se abre para o novo.
Horácio Almeida Pires
São Caetano do Sul, 15 de maio de 2020
