Artigo

Raízes, trinta anos de memória

Aleksandar Jovanovic

A revista Raízes acaba de completar 30 anos de existência. São cinquenta e nove exemplares. A publicação jamais deixou de ser editada. A Fundação Pró-Memória comemorou o fato com a edição No 59 original: reproduz a capa de todas as edições anteriores.

Raízes tornou-se uma balzaquiana atraente na forma e no conteúdo. Convém lembrar o surgimento da revista, que contou com a co-ocorrência simultânea e sucessiva de três projetos lançados pelo então prefeito Luiz Tortorello: o da revista em si, o do projeto editorial de livros sobre a história de São Caetano do Sul; publicados à época também pela Prefeitura da cidade, e a constituição da Fundação Pró-Memória.

Foi um privilégio de ter parte ativa nos três casos. É preciso pontuar, para ser justo, que todos estes projetos contaram com a inestimável e decisiva participação do professor Oscar Garbelotto, de saudosa memória. É preciso sublinhar que São Caetano do Sul é um dos raríssimos municípios brasileiros que possui projeto de conservação do patrimônio cultural.

Afinal, o Patrimônio cultural refere-se tanto aos bens tangíveis, materiais, quanto os imateriais, os bens intangíveis, como tradições, cultos, arte, folclore, escala de valores, etc., existentes num grupo social ao longo de sua história.

Afinal, tanto a revista Raízes quanto o projeto editorial e a própria Fundação Pró-Memória já nasceram com os olhos voltados para a preservação do patrimônio cultural intangível, cruzando vertentes complementares: a narrativa histórica tradicional e a História Oral.

História Oral

A utilização de técnicas da História Oral – entrevistas e depoimentos; por exemplo – foi um fator importante para despertar a participação ativa de membros da sociedade; porque se deu voz às pessoas que tecem e vivem a história nossa de cada dia. Este painel multicolorido, feito mosaico, resultante dos depoimentos individuais, por exemplo, faz emergir a riqueza da vida; e os fatos vistos através de microperspectivas que se complementam, contradizem, excluem e incluem. É a dinâmica da vida este tabuleiro preto e branco, em que a memória seleciona e descarta.

Observada de relance por quem não a conhece, São Caetano do Sul parece uma cidade compacta, uniforme. Ilusão de óptica resultante de seu alto índice de desenvolvimento que a isenta das profundas diferenças urbanísticas, sociais; e outras, que, por infelicidade, caracterizam a maioria das cidades do País. Examinada de modo atento por dentro, São Caetano do Sul revela; no entanto, uma multiplicidade rica em termos de patrimônio cultural intangível: além do evidente sotaque italiano (que os l42 anos recém-comemorados o digam!) deixado pelos numerosos imigrantes da península aqui fixados ainda no século XIX, é possível constatar a fundamental contribuição cultural de tantos outros povos; europeus, asiáticos, sul-americanos e de brasileiros de todos os quadrantes deste Brasil imenso.

Raízes captura, celebra e perpetua esta diversidade. Vale lembrar Fernando Pessoa que, em Mensagem, cravou: “O Homem e a hora são um só/ Quando Deus fez e a história é feita./ O mais é carne, cujo pó/ A terra espreita”

(*) Aleksandar Jovanovic é doutor em Linguística e Semiótica, professor da Universidade de São Paulo. Foi presidente da Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul. É responsável pelas Relações Internacionais da Universidade Municipal de São Caetano do Sul.

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