“Desde o início, o dinheiro que ganhava na construtora Itapuã eu aplicava em terrenos, que fui estocando”
“Minha alegria está em ver a felicidade nos olhos dos clientes quando fazemos a entrega do imóvel.”
“Quero continuar trabalhando, e muito!”
Aos 79 anos de idade (completa 80 em 19/12/2021), Milton Bigucci não abre mão de uma rotina intensa de trabalho e mantém a mesma paixão pela construção desde quando iniciou sua trajetória na área, em 19 de maio de 1961, há 60 anos.
A dedicação que Bigucci tem com o mercado imobiliário só é dividida quando o assunto é família ou futebol, mas para unir essas paixões ele fundou em 7 de outubro de 1983, sua própria empresa familiar: a construtora MBigucci, com sede em São Bernardo do Campo. A gestão da empresa é compartilhada com seus quatro filhos: Roberta, Milton Jr., Marcos e Marcelo e o sobrinho Robson Toneto. A terceira geração da família Bigucci também já iniciou na construtora, os netos: Felipe, de 21 anos, Matheus, de 17 anos, e Bruno, de 16 anos.
Consolidada como uma maiores e melhores construtoras do ABC Paulista e do Brasil (segundo rankings do setor), a MBigucci tem em seu portfólio 415 empreendimentos, 10.716 unidades e mais de 1milhão de m² de área construída.
Não é à toa que a marca da MBigucci tem as cores vermelha, preta e branca, escolhidas cuidadosamente por Milton Bigucci em homenagem ao seu time do coração, o São Paulo Futebol Clube.
Dia 7 de outubro de 2021, a MBigucci completa 38 anos de atividades. Mas a história de seu presidente-fundador na construção teve início bem antes, confira a entrevista:
É verdade que o senhor começou a trabalhar com 9 anos e aos 11 já tinha registro em carteira?
Milton Bigucci: Sou de uma família bastante humilde. Meu pai, Roberto Scarpelli Amedeo Bigucci, era carpinteiro e fazia caixotes para embalar máquinas. Minha mãe, Trindad, era do lar e também costurava. Realmente comecei a trabalhar muito cedo para ajudar em casa. Aos 9 anos de idade eu fazia a limpeza, varria o chão e era como um office boy de uma clínica odontológica na Rua Vergueiro, 7.693, no Alto do Ipiranga/SP. Uma curiosidade é que após o primeiro mês de trabalho, quando fui receber o primeiro salário da vida, a dentista se mudou à noite. Fugiu sem pagar o aluguel da clínica e o meu primeiro salário. É claro que fiquei triste, mas com certeza a experiência me serviu para seguir adiante sem desanimar. Já meu 1º registro em carteira foi aos 11 anos de idade (12/1/1953), como aprendiz de balconista na Casa Freire, uma loja de ferragens na Rua Lino Coutinho, no Ipiranga/SP. A loja era de um senhor muito bonzinho, Nelson Freire, que se tornou um grande amigo anos mais tarde. Antes de ser empresário e construtor, também fui arquivista, balconista, auxiliar de almoxarife, contador, auditor, gerente administrativo até chegar ao que conquistei ao longo dessas décadas.
E como foi o início da trajetória para empreender na construção?
Milton Bigucci: Comecei a trabalhar em 1961 como auxiliar de escritório na Contabilidade da construtora Itapuã, que ficava no Ipiranga, Rua Bom Pastor. Empolgado com a construção civil, em 1964 eu fiz por conta própria minha primeira obra, uma casa no bairro São João Clímaco/SP, que serviu de residência para minha irmã, Célia, meu cunhado e meus sobrinhos, Robson e Rubens. Depois, ainda por conta própria, construí 5 sobrados, até fundar a MBigucci, em 1983. Curiosidade, a fundação da empresa foi no dia 7 de outubro, mas o registro saiu no dia 24 de outubro. Comemoramos as duas datas. Na época, nunca poderia imaginar que a empresa chegaria tão longe. Só tenho a agradecer aos meus diretores, colaboradores, fornecedores e clientes pela história de sucesso e credibilidade que temos hoje.
Recordações guardadas da Itapuã: cartão de visita e foto com amigos em 1970
No início da carreira, o senhor também ocupou um cargo importante na indústria automobilística, na Mercedes Benz. O que o fez trocar pelo setor da construção?
Quando jovem tive uma grande oportunidade na Mercedes Benz. Entrei em 11/2/1963 como auditor júnior e cheguei a assistente do diretor financeiro em apenas 5 anos, mas a construção já estava no sangue e no coração. O meu diretor tinha participado da 2ª Guerra Mundial nos anos de 1940. Um alemão rígido e duro com quem aprendi muito. Nos dias úteis eu trabalhava na Mercedes e de sábado e domingo continuava prestando serviço de contador para a construtora Itapuã. Até que em 1968, fui convidado a assumir como diretor administrativo e financeiro da Itapuã. Pedi então demissão da Mercedes e aceitei o desafio na Itapuã. Era a oportunidade de me realizar profissionalmente na área que havia escolhido. Os amigos da Mercedes diziam que eu estava louco por trocar o cargo que tinha, mas meu tino já estava na construção. Trabalhei na Itapuã por 20 anos, era uma época favorável para a construção, pois o Banco Nacional da Habitação (BNH), criado nos anos de 1960, disponibilizou muito recurso para o setor habitacional no Brasil. Da Itapuã eu só sai para fundar a minha própria empresa, a MBigucci.
Porque o senhor cursou Direito e não Engenharia?
Milton Bigucci: Na época da faculdade (início dos anos de 1960) só tinham cursos diurnos de Engenharia e eu não podia fazer, pois precisava trabalhar para sobreviver. Entrei em 1964 no curso de Direito da USP, no Largo de São Francisco. Passei entre os primeiros colocados e pude escolher estudar à noite para poder trabalhar durante o dia. Minha turma era a 137 – Arcadas de Direito, lembro até hoje com grande carinho dos colegas de classe, entre eles, o ex-ministro do STJ, Sidnei Beneti, o ex-presidente da TV Cultura (Fundação Padre Anchieta), Marcos Mendonça, o procurador do Ministério Público e orador da turma, José Roberto Tucunduva. Tínhamos também um almoço, na última sexta-feira do mês, com toda a “velharia”. Era uma alegria. Aproveitávamos para recordar a nossa época de juventude, as aulas, as amizades, o futebol, as “penduras” e relacionamentos.
30/3/1969 com os pais Roberto e Trindad, na formatura em Direito/USP
Quais as principais dificuldades do seu início na construção?
Milton Bigucci: Desde o início, o dinheiro que ganhava na construtora Itapuã eu aplicava em terrenos, que fui estocando. Já na MBigucci, nossa primeira construção foi o Ed. Gláucia, em 1986, na Rua 3 de Janeiro, 38, na Vila Liviero/SP, próximo à Via Anchieta, km 13. Era um prédio pequeno sem elevador com 16 apartamentos, que vendi para quatro amigos meus. Foi uma época muito difícil economicamente, pois era o período do congelamento de preços do Governo Sarney. Como o plano econômico fracassou e teve grande aumento nos preços, a obra me causou grande prejuízo, mas mesmo assim honrei o contrato e entreguei no prazo. Foi uma primeira experiência negativa na carreira, mas que serviu de muito estímulo para o meu crescimento e o da MBigucci. Lembrei do meu primeiro emprego quando a dentista fugiu à noite sem me pagar.
O que mais lhe atrai no Mercado Imobiliário?
Milton Bigucci: Além de construtor, sou corretor, tirei o CRECI (nº 33.185-F) em 22/9/1986. Minha alegria está em ver a felicidade nos olhos dos clientes quando fazemos a entrega do imóvel. Se para a empresa é mais uma tarefa cumprida, para eles é a realização de um grande sonho, pois muitos têm a oportunidade de comprar um único imóvel na sua vida toda. E nós participamos deste momento tão importante em mais de 400 empreendimentos, cerca de 10 mil famílias. Fico muito feliz também em dar centenas de empregos diretos e indiretos. No período da pandemia, nos adaptamos, mas não demitimos, ao contrário, contratamos.
Quais as obras mais marcantes neste período à frente da MBigucci?
Milton Bigucci: Além do nosso primeiro prédio, o Ed. Gláucia, lembro com com carinho de tantas outras obras, como o Residencial Arco Íris/SBC (1998), com 296 apartamentos para classe econômica; o King’s Garden/SBC (1992) que foi o primeiro de alto-padrão; o Independece Park (2005), no Ipiranga/SP, e o Top Life (2009), em São Bernardo, que foram os primeiros condomínios clubes; o MBigucci Business Park Diadema (2012), nosso primeiro grande Centro Logístico. O Marco Zero MBigucci, nossa maior obra já construída em São Bernardo do Campo, um complexo misto com 954 unidades, entre apartamentos, lofts, duplex, salas comerciais e boulevard. Em novembro de 2020 tivemos o sinal verde da Prefeitura de Santo André para a construção do nosso maior condomínio logístico na Av. dos Estados, perto do Makro e do Auto Shopping Global, com 37 galpões e 109.530 m² de terreno. E duas coisas importantes a ressaltar: não temos dívidas e nunca construímos obras públicas.
O senhor também construiu uma grande obra social no início da carreira. Qual foi?
Milton Bigucci: Foi o Lar Escola Pequeno Leão, uma construção que me marcou muito. Desde adolescente, eu tinha o desejo de realizar um trabalho para menores em vulnerabilidade social. Foi em 1972 que tive a ideia de criar um orfanato. Na época, eu era presidente do Lions Clube Rudge Ramos/SBC e convidei alguns amigos para realizar este projeto.
Em 1973 lançamos a pedra fundamental, aquilo que seria o Lar Escola Pequeno Leão, e no ano de 1977 iniciamos a construção em um terreno com 12.319,68 m² doado pela Prefeitura de São Bernardo do Campo, onde construímos 3 grandes galpões. O Lar foi inaugurado dia 8/10/1981. No dia 22/10/1983 acolhemos o primeiro garoto com 7 anos, e em novembro do mesmo ano, chegaram mais 6 meninos de 3 a 6 anos.
Outra obra social que me marcou muito foi a fundação do CAMPI (Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro do Ipiranga/SP) quando eu era superintendente da Associação Comercial de SP-Distrital Ipiranga (ACSP). Já passaram por lá milhares de jovens carentes para os quais damos um caminho do bem, colocando-os como aprendizes nas empresas do bairro, sem qualquer custo.
Bingos e Futebol beneficente em prol da construção do Lar Escola Pequeno Leão
A que atribui o sucesso da MBigucci? A empresa foi eleita duas vezes como a “Melhor Construtora do Brasil”, além de outros diversos prêmios.
Milton Bigucci: São três os pilares deste sucesso: primeiro, acreditamos em nossos colaboradores, a quem costumamos chamar de “Família Bigucci”. Sempre incentivamos a participação dos colaboradores, a valorização do capital humano e o crescimento pessoal e profissional deles. Segundo, estamos sempre buscando a total satisfação de nossos clientes, inovando com diferenciais tecnológicos, programas de relacionamento, oferecendo o produto que precisam a justo preço e com qualidade. E terceiro, temos uma preocupação constante com a Responsabilidade Social e Ambiental. A empresa foi uma das primeiras no ABC a ter gestão ambiental dentro das obras, além da ISO 9001 de qualidade. Temos vários programas de responsabilidade social e ambiental, que chamamos de BIG’s: o Big Vida (preservação ambiental), o Big Riso (voluntariado nos hospitais para crianças com câncer), o Big Vizinhança (relacionamento com os vizinhos das obras), o Big Conhecimento (para estudantes) e o Big Ideias (para inovações).
Uma empresa de sucesso se constrói com colaboradores de grandes talentos
O senhor também participa de várias entidades do setor, o que isso representa?
Milton Bigucci: Quanto mais eu puder participar de entidades, melhor e indico isso para todos. Sempre aprendo muito com essas pessoas e atividades. Participo da Associação dos Construtores, Imobiliárias e Administradoras do Grande ABC (ACIGABC) há mais de 25 anos, grande parte como presidente da entidade, e atualmente como conselheiro fiscal e vitalício. O Milton Bigucci Junior, meu filho, assumiu recentemente a presidência da entidade. Também atuo no Secovi-SP do qual fui vice-presidente, comandando as regionais do Interior de São Paulo e, hoje, sou membro do Conselho Consultivo Nato. Na Associação Comercial de São Paulo (ACSP), sou conselheiro vitalício e fui superintendente da Distrital Ipiranga, e no Ciesp, faço parte do Conselho Industrial. O importante é estar sempre contribuindo para o crescimento do setor e das pessoas.
Pouca gente sabe, mas o senhor é Membro da Academia de Letras da Grande São Paulo e já tem 6 livros escritos. É verdade que está escrevendo mais um? Qual é o tema?
Milton Bigucci: Desde 2003 sou membro da Academia de Letras e anualmente escrevo artigos para as publicações “Tamises” e “Antologia”. De autoria própria tenho seis livros “Caminhos para o Desenvolvimento”, “Somos Todos Responsáveis – Crônicas de um Brasil Carente”, “Construindo uma Sociedade mais Justa”, “Em Busca da Justiça Social”, “50 anos na Construção” e “7 Décadas de Futebol”. Agora estou escrevendo a sétima obra, sobre empreendedorismo, que deve sair ainda este ano.
E o futuro? Pensa em parar de trabalhar?
Milton Bigucci: Quero continuar trabalhando e muito. Se eu me afastar de tudo isso, eu morro. Nos últimos anos de crise o que mais fizemos foi comprar terrenos, que é nossa matéria-prima. Temos um banco de terrenos com potencial para VGV nos próximos 15 anos. Mas a vida não é só trabalho, eu também gosto de sair, ir ao cinema, teatro, viajar com minha esposa, Sueli, e jogar meu futebol, é claro! Espero continuar no mesmo ritmo…se Deus quiser!
Assista ao vídeo-homenagem: Super Bigucci: https://youtu.be/u8pXxIsjvHU