O garotão do Ensino Médio, saudável e musculoso, tinha contra si ser avesso à apostila de matemática. No histórico escolar, trazia reprova e estava no limiar de outra.
Convocado para ajudar a redimi-lo de novo fracasso, o pai, convicto, sentenciou em sua defesa: “Ele para os estudos. Não nasceu para estudar. Nasceu para empreender.”
Aquela voz paterna, descrente de um horizonte e convicta de outro, ficou-me a martelar: nasceu para empreender! Nasce-se mesmo empreendedor? Cresce no Brasil a crença de que sim. Crê-se que basta criar um novo sabor para a pipoca e tem-se mais um vitorioso da espécie.
Com sincera veneração aos que não puderam, embora quisessem, fazer algo maior do que reinventar a pipoca, empreendedorismo não dá em maternidade. Há duas categorias de empreendedores no mundo: os que empreendem por subsistência e aqueles que deslindam oportunidades. Os primeiros reinventam-se para subsistir. Os segundos emergem da lapidação demorada e do talento escoimado.
O Brasil está tomado dos primeiros e sofre a escassez dos segundos. Temos fama de povo empreendedor, mas sendo a quinta demografia do planeta, ocupamos apenas o 18° lugar no registro de patentes. O garotão da minha agenda era candidato a patentear um aplicativo capaz de impactar milhões, mas a estulta crença do pai o fará candidato a reinventar o sabor da pipoca.
*Daniel Belluci Contro, professor de história, tem mais de 25 anos de experiência na Educação.