Obra de restauração e modernização do Museu do Ipiranga revela descobertas arqueológicas
Cerca de 1250 objetos foram encontrados em escavações e realocações de árvores na área externa do novo museu, bem como no contrapiso do Edifício-Monumento; conjunto sugere que o entorno pode ter sido usado para rituais religiosos
Em atendimento à legislação ambiental, o canteiro de obras do Museu do Ipiranga tem
sido um local de monitoramento arqueológico. Em escavações na área externa do museu,
acompanhadas pela equipe de arqueólogos, foram encontrados ossos, fragmentos de
porcelana, moedas e objetos de uso pessoal, bem como itens inusitados localizados no
contrapiso do Museu, como um cachimbo, um chinelo, um chapéu e um cálice de licor. Em
parceria com a Scientia Consultoria Científica, os achados, que somam cerca de 1250
itens, divulgados em série de postagens nas redes sociais do museu e do laboratório. Ao
final das obras, os artefatos serão incorporados ao acervo do Museu.
“O acompanhamento arqueológico é um importante instrumento da legislação brasileira
para a proteção do patrimônio arqueológico, que são bens da União, garantindo sua
preservação e estudo”, explica o Dr. Renato Kipnis, diretor da Scientia e coordenador do
projeto. “Além disso, joga luz num aspecto importante do passado, da vida cotidiana da
cidade, que normalmente não é documentado ou não é relatado”.
A série foi inaugurada por uma curiosa dentadura, da primeira metade do século 20, que
incluía um dente com restauração em ouro, ou que imita ouro, para disfarçar o uso da
prótese, além de conferir status. Dotada de uma câmara de vácuo para o encaixe no
palato, que se fixava com pressão, este modelo podia causar dor, hiperplasia e até levar ao
desenvolvimento de câncer na boca, e portanto, foi substituído na segunda metade do
século. Ela foi encontrada durante o processo de remoção de árvores do jardim para
replantio.
Outros achados indicam a possibilidade do entorno do Museu ser um local para atividades
religiosas de diferentes vertentes, algumas provavelmente de origem afro-brasileira. O
item de destaque para esta hipótese são os fragmentos de uma garrafa de vidro cujo
gargalo continha sete tiras de papel enrolados em seu interior, com o nome de Claudete
Jahaqui (ou Iahaqui, com “I”). Além do curioso conjunto, a forte presença de ossos,
moedas e cacos de porcelana apontam para a mesma possibilidade.
Entre os ossos achados das escavações na área externa do novo Museu do Ipiranga,
exumados pela Scientia Consultoria Científica, estão pedaços de crânio, pélvis e pés de rês