CPI avança nas investigações sobre contaminação provocada pelo Polo Petroquímico de Capuava (SP)
População de bairros próximos sofre com “tireoidite de Hashimoto”
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Poluição Petroquímica, que foi instalada na Câmara de Vereadores de SP no início de maio após denúncias sobre a poluição e contaminação ambiental no entorno do Polo Petroquímico de Capuava, continua a ouvir os depoimentos de especialistas sobre o risco aos moradores de bairros próximos.
Há estudos da doutora Maria Ângela Zaccarelli, médica endocrinologista da USP, mostrando que o polo pode estar provocando aos moradores da região a chamada “tireoidite de Hashimoto”, doença autoimune, cuja principal característica é a inflamação da tireoide causada por um erro do sistema imunológico. Na tireoidite de Hashimoto, o organismo fabrica anticorpos contra as células da tireoide. Esses anticorpos provocam a destruição da glândula ou a redução da sua atividade, o que pode levar ao hipotireoidismo por carência na produção dos hormônios T3 e T4. Maria Angela já prestou depoimento na CPI.
Segundo o ambientalista Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), um dos primeiros a denunciar o caso e que prestou depoimento na CPI esta semana, “a falta de regularidade ambiental do Polo Petroquímico de Capuava exige uma abordagem multissetorial e deve considerar, em primeiro lugar, a necessidade de um programa de controle como ocorreu em Cubatão, com a obrigatoriedade de resolução das desconformidades ambientais no processo produtivo e com sistemas de controle de poluição eficientes”.
Bocuhy lembra que, mesmo antes da CPI, tem há procedimentos instaurados trabalhado no Ministério Público paulista para resolver o problema, sem resultado até agora. Representantes da Secretaria da Saúde de SP devem os próximos a depor na CPI.
Para o ambientalista, não é surpreendente que a tireoidite de Hashimoto decorrente da poluição “fosse por acaso descoberta por uma lúcida e responsável médica endoclinologista, atenta sobre a anamnese de seus pacientes”. O incompreensível, diz Bocuhy, é que “a Cetesb não se debruce sobre as relações existentes entre os processos produtivos poluidores, cujo efeito há décadas invade as moradias da população que apresenta um quadro acentuado de doenças autoimunes”.