A biografia de Vilson Souza (i.M.), Coração de Cavaleiro já está circulando nas mãos de várias personalidades e admiradores e conta a história do Ginete do Século. Um livro escrito por Renato Dalto que retrata um homem a cavalo e sua obra, com um grande lançamento previsto durante os 40 anos do Freio de Ouro, a mais importante prova da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos no Rio Grande do Sul.
VILSON SOUZA, A BIOGRAFIA
A obra conta vida, obra e trajetória do do homem com alma de centauro. Do maestro que compôs a mais bela sinfonia de movimentos na Raça Crioula: Vilson Chalart de Souza. Sob a curadoria de Pablo M. de Souza Alves, Renato Dalto, Sandro Favero, Rodrigo Alegrete e André Machado fizeram o fogo, aqueceram ideias e deram a partida nessa obra fundamental. Don Vilson merece todo o respeito, admiração e dedicação para contar bem essa história. Uma bela história que revolucionou o mundo do cavalo Crioulo.
VIDA & OBRA
A vida lhe deu o dom dos cavalos. Nas carreiras, no campo, nas rédeas e na pista. Foi homem de múltiplos instrumentos e tons: a têmpera da paciência, o equilíbrio no estribo a suavidade na mão. Cavaleiro hábil, cavalheiro no trato, divertido na dança, gaiteiro nos folguedos. Essa biografia é um pouco de cada um de nós: a paixão pelo cavalo e os seus significados. A evolução da raça Crioula, a consagração do Freio de Ouro, as lições de equitação e de vida. Uma obra que nos toca e identifica.
QUANDO NASCE O HOMEM
Aconteceu assim, dentro de uma mangueira lá pelo Ibirocai RS. O tostado corcoveava muito. Pai e filho estavam ali. E o guri, com apenas 14 anos, resolveu montar: “- Meu pai disse: não monta porque tu vai cair. E se cair tu apanha. Eu disse pra ele: o senhor me desculpe meu pai, eu nunca lhe desobedeci, mas vou montar.”
Vilson lembra então o que ocorreu. A cada pulo do cavalo, reboleava o rebenque e olhava para os lados. E numa dessas bombeadas viu que Marcos, o pai, chorava de orgulho. Até seus últimos dias descrevia a cena em detalhes, levantando o braço pro ar e o rebenque imaginário ainda reboleava, ritual onde enfim, o menino se estriba na condição do homem que nasce.
DON VILSON, O PERSONAGEM E AS CIRCUNSTÂNCIAS
Há uma estampa que todos viram, gravaram e virou história: o homem elegantemente montado, perna estribada e garrão pra baixo, mão suave na rédea e uma postura altiva e equilibrada. Mas há também o gaiteiro, o declamador que nas madrugadas saía a cavalo recitando baixinho versos de Jayme Caetano Braun, o que reunia a gurizada no galpão, o que via e respeitava dos dotes de Carmen, a companheira que transitava na obra de García Márquez ou nas canções de Charles Aznavour. O homem é as circunstâncias que o fazem. Para um escritor, é preciso auscultar o personagem e ver com que tintas vai entregar depois, ao leitor, a aquarela em forma de biografia. É preciso mente aberta, olhar em calma e ouvidos atentos. Don Vilson gesticulava, apontava, teve muita precisão de memória e reconstruiu, com gestos, tudo o que viveu e sentiu. Frente a frente, numa tarde, em Bagé, é esse gesto que se expande de novo, o coração que sobressalta quando o braço segura a rédea imaginária. O personagem e suas circunstâncias ganha contorno. O homem a cavalo. O cerne da nossa identidade.
O DOMINGO CHEGANDO
O símbolo do Freio de Ouro é um domingo, aquele dia onde tudo se decide até o último boi, a última corrida. Ali chegam os melhores, os que tiveram mais pata, boca, brio e alma. É quando cavalo e ginete partem para a glória final. Uma obra, uma vida, também têm seus domingos decisivos, o dia em que tudo se completa e um ciclo se fecha para abrir outro. A biografia de Vilson Souza, que viveu tantas finais consagradoras no Freio, também se apronta para enfim se apresentar na cancha contanto todas as histórias do mestre cavaleiro, daquele que mesclou o coração com o cavalo e ambos, a pata e boca, chegaram à consagração de campeão. A obra tem a emoção de todos os Freios e seus domingos inesquecíveis.
VILSON SOUZA ETERNO
Dizem que o cavalo galopa, galopa como se procurasse o cavaleiro. Às vezes é rosilho, pode ser picanço, quem sabe um tordilho que clareia na noite. A noite chegava então quando o cavaleiro partiu. No quinto dia de dezembro, fim de primavera no ano de 2020, Don Vilson Chalart de Souza enfim se encontrou com esses cavalos que já partiram e, em algum lugar, procuram pelo cavaleiro. Se há o céu para os bons cavalos, como canta Atahualpa, o céu dos cavaleiros os encontra e eles, enfim, serenam. Nesta noite Vilson levou o pé no estribo, alçou a perna e montou. Itaí mascava o freio faceiro. Enfim, todo o céu para correr. Até breve, Vilson Souza. Tua obra segue entre nós. Serás eterno. Sempre.