Falta diálogo com professores no caso do retorno das aulas presenciais
A Prefeitura de São Caetano do Sul determinou que as aulas sejam presenciais a partir desta semana.
De acordo com, a Prefeitura de São Caetano do Sul determinou que as aulas sejam presenciais a partir desta semana. Uma voz que não foi ouvida nesse processo foi a dos professores e professoras. Desta forma estamos abrindo espaço para que as dirigentes da ASPESCS, Associação dos Profissionais da Educação de São Caetano do Sul possam relatar as tentativas de diálogo com a municipalidade e o que os educadores pensam sobre este retorno precipitado. Neste modelo de ping-pong com perguntas e respostas ouvimos as dirigentes da ASPESCS, professora Arlete Feres e professora Mariana Bonotto.
A Aspescs considera precipitada a decisão do governo em retornar com as aulas presenciais?
Não somente a Aspescs quanto diversos cientistas e entidades. Temos exemplos internacionais e o trágico exemplo de Manaus. Ainda se torna mais desrespeitoso quando essa atitude não respeita nem o acordado no consórcio das 7 cidades do Grande ABC. Vale destacar que, a abertura das escolas irá contribuir para o agravamento da crise sanitária nas cidades da região, uma vez que temos funcionários que não são munícipes.
O governo municipal procurou a Aspescs para debater questões para este retorno?
Não nos procurou, não ouviu nenhum funcionário e se recusou a atender os funcionários que tentaram conversar com o secretário da educação no dia 04/02. Achamos de um grande desrespeito o envio de um documento de 11 páginas para o e-mail dos educadores com os dizeres “Construído coletivamente pelos sujeitos a quem se destina”. Isto se caracteriza como mentira!!!! Quem fez parte desse “coletivo”? Gestores? Cecap?
Os educadores, funcionários da limpeza, merenda, inspetores, APIs, porteiros, não procurados nem para construir coletivamente, e no caso dos funcionários nem para saber a opinião. Nas Lives e entrevistas o secretário diz que os professores ainda não sabem, porque estavam de férias, mas no documento oficial contém esta frase, que já desmentida publicamente.
Essas ações só corroboram que não podemos confiar no que é dito pela prefeitura. Aliás, gostaríamos de poder fazer uma análise coletiva deste documento, já que ele próprio confirma que as escolas têm autonomia para flexibilizar as regras conforme seu contexto…. Considerando que a maioria das escolas não têm ventilação adequada, chegando ao máximo de uma escola sem nenhuma área aberta. A comunidade escolar, diante desta realidade, deveria ter o poder de exigir que o ensino remoto permaneça e ao invés das aulas presenciais sem a vacina (garantido no próprio documento).
Entende que a campanha para incluir os professores na primeira fase da vacinação poderá ter êxito?
Acreditamos que a ordem da vacinação está adequada, ainda mais, o que precisamos é lutar por mais vacinas e respeito à ordem. Colocar os professores à frente de idosos e pessoas com comorbidade não nos soa correto. Mesmo vacinados, podemos pegar o vírus em sua forma mais leve, ou ser assintomáticos, e mesmo assim contaminar outros, podendo contaminar alunos e familiares.
Com a vacinação de idosos, comorbidades e depois funcionários da educação, e continuando a campanha de vacinação para grupos não prioritários, teremos um grupo menor de pessoas com chances de desenvolver a forma grave da doença, e também teremos reduzido significativamente o número de casos ativos (que atualmente no Brasil gira em torno de 1 milhão).
Desta forma, mesmo não vacinando as crianças, o retorno, com as medidas hoje apresentadas (redução de alunos por turma, distanciamento social, higienização constante de mãos e ambiente) seriam de fato seguras para o retorno presencial das aulas.
- Um retorno adequado de fato, seria a construção de novos prédios, com ventilação adequada,
- contratação de mais funcionários para as turmas reduzidas (normalmente, e não um rodízio de alunos que gera desigualdade educacional).
Quais tem sido as ações da em relação à prefeitura?
A Aspescs é um espaço para ouvir, dialogar e orientar todos os educadores. Aqui temos um canal aberto, um espaço para perguntar e encontrar respostas, já que nossa gestão busca nos silenciar constantemente. Fizemos uma carta pedindo que o retorno presencial só ocorresse após a vacinação dos profissionais da educação e nos colocando a disposição para diálogo.
Mostrando nosso apoio ao isolamento e distanciamento social, a carta encaminhada à Secretaria de Educação por e-mail no dia 21 de janeiro. Recebemos uma devolutiva que a caixa de entrada estava lotada. Tentamos ligar para confirmar o recebimento, mas após se atendida pela telefonista, fomos informados que os ramais estavam todos ocupados e que a ligação poderia cair (e caiu mesmo), enviamos o e-mail novamente e o mesmo aconteceu. Enviamos a mesma carta a todos os vereadores, e recebemos uma confirmação de recebimento de um vereador e do mandato Mulheres por + Direitos recebemos uma resposta que elas se solidarizavam à nossa causa e que iriam protocolar a carta junto à Seeduc.
Alguns membros da Aspescs também participaram do Comitê de Educação Defesa da Vida das 7 cidades do Grande ABC, onde redigido um Manifesto contra o retorno das aulas presenciais sem a vacina, exigindo a manutenção do ensino remoto. Mas todas as ações sao ignoradas pelos governantes, como em uma ditadura. Como forma de tentar abrir o diálogo, elaboramos junto a advogados, um ofício que deixa claro, que os educadores estão sendo obrigados a retornar e que recairão sobre os gestores municipais as responsabilidades pelos danos causados pela contaminação dos educadores, alunos, suas famílias e demais membros da comunidade escolar.
Uma escola de Campinas fechou depois que 45 crianças contaminadas. Este fato poderá se repetir em São Caetano?
Não precisamos ir até Campinas, já teve casos de surto após a semana de planejamento
em escolas da Grande São Paulo, até o dia 05/02 já passava de 70 escolas. Sim, esse fato pode ocorrer em São Caetano, embora os diretores tenham sido instruídos a falar que: “não sabemos como a escola de Campinas agiu, aqui é seguro”.
Sabemos que nenhuma aglomeração é segura.
- Crianças se movimentam e compartilham objetos e lanches,
- ficamos muitas horas no mesmo ambiente e precisaremos trocar as máscaras,
- retirar a máscara e tomar água, comer.
- O risco é maior principalmente no Ensino Fundamental 2,
- Ensino Médio e Ensino Técnico Profissionalizante onde os educadores circulam por diversas turmas e escolas, espalhando ainda mais o vírus.
Por fim, tendo um professor contaminado dever-se-ia fechar a escola e todos se manterem em isolamento total por 15 dias. Mas, ao questionar sobre o que sera feito em caso de contaminação, os diretores dizem que so a sala que houver uma contaminação sera fechada.
- Pela diferença entre o que precisa ser feito e o que estamos sendo instruídos a fazer,
- podemos calcular a gravidade da abertura das escolas para aulas presenciais.