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A triste cultura do desperdício

No Brasil, o desperdício de água tratada é uma realidade alarmante e inaceitável. O estudo recente do Instituto Trata Brasil (ITB), em parceria com a GO Associados, revela que o país perde, todos os dias, o equivalente a 6.346 piscinas olímpicas de água antes que ela chegue às torneiras de seus cidadãos.

A cifra é estarrecedora e reflete a ineficiência de um sistema de abastecimento que, em vez de oferecer soluções, consome os recursos hídricos do país de forma descontrolada e irresponsável.

A magnitude do desperdício é ainda mais preocupante quando analisamos o volume total de água tratada perdida ao longo de um ano: 5,8 bilhões de metros cúbicos. Isso é suficiente para abastecer 50 milhões de pessoas, número equivalente ao de muitos países. O que isso significa, na prática? Significa que, em um Brasil de dimensões continentais, com 34 milhões de brasileiros sem acesso regular à água potável e enfrentando secas severas e mudanças climáticas cada vez mais imprevisíveis, estamos jogando fora uma quantidade absurda de um bem essencial à vida humana e à dignidade.

O estudo destaca uma realidade desconcertante: as perdas totais de água representam 40,31% de tudo o que é produzido, um número muito acima da meta estipulada pela Portaria 490/2021, que estabelece um limite de 25%. Em um cenário onde a água é um recurso cada vez mais escasso, é difícil compreender como o país ainda permite que tamanha quantidade de água tratada se perca — principalmente em áreas como o Norte e o Nordeste, onde as perdas chegam a mais da metade da água distribuída. Em estados como Alagoas (69,86%) e Roraima (62,51%), a situação é ainda mais grave, revelando uma profunda ineficiência no gerenciamento dos recursos hídricos.

A responsabilidade por essa perda de água recai sobre uma série de fatores, como vazamentos, erros de medição e consumos não autorizados. De acordo com o estudo, os vazamentos são responsáveis por grande parte desse desperdício, com mais de 3 bilhões de metros cúbicos de água sendo perdidos anualmente apenas por falhas na infraestrutura.

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