A falta de unidade na esfera ambiental
A fracassada negociação da COP30 em torno do fundo florestal e da eliminação dos combustíveis fósseis expôs, mais uma vez, o abismo entre discursos climáticos ambiciosos e a prática política tímida, quando não abertamente contraditória. Em Belém, esperava-se que, diante da urgência dos alertas científicos e do agravamento dos eventos extremos, os países finalmente convergissem para compromissos claros. O que se viu, porém, foi um palco de interesses conflituosos, em que a pressa da emergência climática esbarrou na lentidão calculada da geopolítica.
O fundo florestal, apontado como mecanismo crucial para preservar biomas essenciais como Amazônia, Congo e Bornéu, tornou-se vítima da velha disputa entre Norte e Sul globais. Os países desenvolvidos insistiram em condicionar recursos a metas rígidas e auditorias extenuantes, enquanto os países em desenvolvimento exigiam financiamento previsível e não reembolsável, lembrando que grande parte do desmatamento histórico foi impulsionada justamente pela demanda global. O resultado foi um impasse que mina a confiança e posterga ações essenciais.
Ainda mais simbólico foi o confronto sobre os combustíveis fósseis. Embora a ciência seja inequívoca sobre a necessidade de eliminá-los rapidamente, algumas nações produtoras bloquearam qualquer menção a “phase-out”, insistindo em expressões vagas como “redução gradual”. A retórica do “realismo energético” serviu de cortina para manter intocados interesses econômicos imediatos, mesmo diante dos custos sociais e ambientais crescentes.
O fracasso da COP30 não significa apenas a ausência de acordos; ele revela a incapacidade de muitos governos de imaginar um futuro que não esteja acorrentado ao passado. Enquanto líderes tratam o clima como moeda de troca, comunidades inteiras já pagam o preço da inércia.
A conferência que deveria simbolizar virada histórica terminou lembrando que, sem coragem política, nenhum avanço técnico ou diplomático é suficiente. O planeta, contudo, não negocia: apenas reage. A conta continuará chegando — e mais alta a cada ano.
