A falta de diversidade na esfera pública é um problema estrutural que compromete não apenas a representatividade, mas a própria qualidade do debate democrático. Quando olhamos para quem ocupa cargos de liderança, aparece na mídia, toma decisões políticas ou influencia a formulação de políticas públicas, percebemos um padrão que se repete: são, majoritariamente, as mesmas vozes, os mesmos grupos sociais, as mesmas experiências. Essa homogeneidade não é fruto do acaso, mas resultado de barreiras históricas que limitam a participação plena de mulheres, pessoas negras, indígenas, LGBTQIA+, pessoas com deficiência e também outras minorias sociais.
O problema começa pelo acesso desigual às oportunidades. A esfera pública costuma exigir capital cultural, redes de contato e recursos que muitos simplesmente não têm. Mesmo quando indivíduos de grupos sub-representados conseguem superar essas barreiras, enfrentam ambientes hostis, marcados por racismo, machismo, capacitismo e preconceitos sutis que minam credibilidade e participação. Assim, a falta de diversidade não é apenas ausência de corpos diferentes, e sim a presença ativa de mecanismos de exclusão.
Outro agravante é a persistência de uma ideia de neutralidade que, na prática, favorece sempre os mesmos grupos. Há quem defenda que competência é a única medida necessária, ignorando que critérios de “competência” frequentemente são moldados por uma cultura dominante que reconhece mais facilmente o mérito de quem se parece com ela. A esfera pública não é um terreno neutro: ela reflete hierarquias de poder profundamente enraizadas.
Essa falta de diversidade tem consequências concretas. Decisões importantes são tomadas sem considerar a realidade de grande parte da população. Políticas públicas que não contemplam a pluralidade de vivências tendem a ser ineficazes, injustas ou excludentes. Além disso, o debate público empobrece quando é conduzido por poucos, já que perde complexidade, criatividade e capacidade de inovação. Sociedades diversas tendem a produzir ideias mais ricas e soluções mais abrangentes, justamente porque enxergam o mundo a partir de múltiplas perspectivas.
Também é preciso reconhecer que a ausência de diversidade afeta diretamente a confiança nas instituições. Quando as pessoas não se veem representadas, sentem que suas demandas não são levadas a sério. Isso enfraquece o engajamento cívico e alimenta descrença política. A representatividade, portanto, não é apenas um gesto simbólico, mas um pilar essencial para fortalecer a democracia.
Promover diversidade na esfera pública exige ações concretas: políticas de inclusão, ampliação de espaços de fala, combate ativo às discriminações e revisão dos critérios que regulam acesso e participação. Não basta abrir portas: é preciso garantir que todos tenham condições reais de atravessá-las.
A falta de diversidade não é um problema inevitável; é um sintoma de escolhas políticas, culturais e institucionais. E, justamente porque é resultado de escolhas, pode ser transformado. A esfera pública só cumprirá plenamente sua função quando refletir, em sua complexidade, a sociedade que pretende servir.
