O discurso de Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia Geral da ONU em 2025 reforçou a tônica de sua política externa, combinando a defesa do multilateralismo com críticas diretas a questões de soberania e à ordem global vigente.
Ao abrir a 80ª sessão, Lula reafirmou a posição do Brasil como um defensor do Sul Global, um contraponto às potências tradicionais.
A crítica de Lula à “extrema direita subserviente” e à “agressão contra a independência do Poder Judiciário” soa como uma manobra para justificar o que acontece internamente, sobretudo o desfecho do processo judicial do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em vez de uma defesa universal da democracia, a fala parece mais um acerto de contas político, uma tentativa de legitimar uma narrativa doméstica no palco global.
Ao vincular o Brasil à defesa do Estado de Direito, Lula busca projetar uma imagem de estabilidade democrática que, na realidade, ainda é objeto de intensos debates e polarização.
A crítica ao uso da fome como “arma de guerra” em Gaza, e o alerta de que o “massacre não aconteceria sem a cumplicidade dos que poderiam evitá-lo”, marcou um posicionamento contundente sobre o conflito, ecoando a diplomacia histórica do Brasil em favor da causa palestina.
No entanto, a firmeza em condenar a violência em Gaza não se traduz, por exemplo, em uma política igualmente clara sobre o conflito na Ucrânia, demonstrando uma seletividade que enfraquece a credibilidade da diplomacia brasileira.
A defesa da regulação das redes sociais, por sua vez, demonstrou a intenção de o Brasil se posicionar na vanguarda do debate global sobre liberdade de expressão e desinformação.
A defesa do Brasil como uma nação independente, livre de tutela, confronta-se com a complexa realidade das relações internacionais, onde o país busca equilibrar interesses comerciais e políticos com potências globais.
Além disso, a capacidade do governo de traduzir suas pautas, como a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, em resultados tangíveis e duradouros no cenário mundial ainda está em prova.
A ambiguidade em relação a certos temas, como a política energética e a mineração, também pode minar a credibilidade da agenda ambiental anunciada, tornando a “COP da verdade” um desafio para o próprio governo.
Em resumo, o discurso de 2025 foi uma demonstração de força e de alinhamento ideológico, reafirmando o Brasil como um ator relevante e autônomo. A eficácia dessa narrativa, porém, dependerá da coerência entre as palavras e as ações do governo brasileiro no decorrer do mandato.