As recentes eleições legislativas na Argentina marcaram um ponto de inflexão na política do país, com a derrota do bloco liderado pelo presidente Javier Milei, A Liberdade Avança. Embora Milei tenha sido eleito com uma onda de apoio popular, prometendo uma “motosserra” para o Estado e uma drástica redução de gastos, os resultados das urnas mostram que seu projeto político enfrenta resistência significativa.
O revés de Milei não foi uma surpresa completa para muitos analistas. Sua agenda de reformas ultraliberais, que inclui a privatização de empresas estatais, cortes em subsídios e a desregulamentação da economia, gerou uma forte oposição de setores sindicais e movimentos sociais. A dificuldade de Milei em construir alianças no Congresso e a falta de uma base partidária sólida o tornaram vulnerável desde o início.
A principal força que se opôs a Milei nas urnas foi a coalizão de centro-esquerda União pela Pátria, que conseguiu capitalizar o descontentamento com as medidas de austeridade do governo. O peronismo, que continua a ser uma força política dominante, soube se reorganizar e apresentar candidatos que ressoaram com a população que se sentiu diretamente afetada pelos cortes.
A derrota eleitoral de A Liberdade Avança pode ser interpretada como um sinal de que a população argentina, embora ansiosa por mudanças, não está disposta a endossar um projeto que sacrifique os direitos sociais e a proteção do Estado de bem-estar.A partir de agora, o governo de Javier Milei terá de lidar com um Congresso mais fragmentado e opositor. A aprovação de projetos de lei cruciais, como o “Pacote Fiscal”, será muito mais difícil. Milei terá de negociar com outros partidos, algo que ele prometeu não fazer durante a campanha. A oposição, agora fortalecida, certamente tentará impor limites à agenda do presidente.
Em suma, as eleições legislativas na Argentina foram um duro golpe para Javier Milei, que terá de repensar sua estratégia política. A derrota de seu bloco demonstra que a rua tem um poder de veto e que o projeto de ajuste fiscal radical, sem diálogo e negociação, encontra barreiras na democracia. O futuro da política argentina dependerá da capacidade do presidente de se adaptar a esse novo cenário, o que exigirá um tipo de realismo político que ele ainda não demonstrou.