O MP – Ministério Público do Estado de São Paulo pediu a cassação dos mandatos do prefeito afastado Marcelo Lima – Podemos, do presidente afastado da Câmara, Danilo Lima – Podemos, e do suplente de vereador Ary José de Oliveira – PRTB. O pedido faz parte de uma denúncia protocolada pelo Procurador-Geral de Justiça, Dr. Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, que acusa os parlamentares e empresários de envolvimento em crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Segundo o despacho encaminhado ao Tribunal de Justiça, a operação revelou que o prefeito afastado Marcelo Lima seria o “chefe” de um esquema que desviava recursos públicos por meio de contratos milionários firmados pela Prefeitura de São Bernardo e pela Fundação ABC. Além disso, foram apreendidos valores em espécie que reforçam a denúncia: R$ 583,3 mil em um veículo, R$ 12 milhões na residência de Paulo Iran Paulino Costa, R$ 946,3 mil em sede de empresa, R$ 1,9 milhão com Edimilson de Deus Carvalho e R$ 215 mil em poder de Caio Henrique Pereira Fabbri.
Ainda mais, o total já identificado chega a R$ 16,9 milhões, valor que o MP pede como reparação aos cofres públicos. O procurador ressaltou: “As evidências apontam que o prefeito Marcelo de Lima Fernandes emerge como o eixo articulador e a figura central da organização criminosa, exercendo papel de influência direta sobre as movimentações ilícitas”.
Investigados
De acordo com o Ministério Público, Marcelo Lima comandava diretamente as operações financeiras, recebendo relatórios e autorizando pagamentos. Conversas interceptadas mostram frases como “vai guardando”, “anote tudo para o posterior acerto” e “encaminhe a lista do que tem para entrar para mim”, reforçando a acusação de que ele controlava o fluxo de recursos.
Já o presidente afastado da Câmara, Danilo Lima Ramos, primo do prefeito, aparece profundamente ligado à movimentação financeira que abastecia despesas de figuras políticas e familiares da gestão municipal. Em outras palavras, ele seria um dos principais operadores do esquema dentro do Legislativo.
O suplente Ary José de Oliveira, por sua vez, foi citado em diálogos e registros contábeis. Contudo, as conversas em seu celular estavam apagadas, o que levantou suspeita de ocultação de provas. Apesar disso, seu nome aparece em diversas planilhas apreendidas, indicando possível participação em transações financeiras ilícitas.
Contratos
O MP detalhou uma rede de empresas que teriam sido usadas como fonte de desvio de recursos:
Quality Medical Comércio e Distribuidora de Medicamentos Ltda. – Só em 2024, movimentou cerca de R$ 130 milhões em contratos com a Prefeitura. Os sócios já foram investigados na Operação Prato Feito.
DR3 Engenharia Ltda. – Recebeu R$ 41 milhões em contratos públicos desde 2018, sendo R$ 36,4 milhões apenas em São Bernardo e mais R$ 2,5 milhões da Fundação ABC.
One Laudos Diagnósticos Médicos Ltda. – Apesar de não ter contrato direto com a Prefeitura, recebeu R$ 6,2 milhões da Fundação ABC.
Tecnocomp Tecnologia e Serviços Ltda. – Em 2025, recebeu R$ 5,3 milhões da Prefeitura e teve contrato aditado em mais R$ 4,5 milhões.
HHTec Comércio e Serviços Ltda. – Citada em conversas entre operadores do esquema, também possui contratos com a administração municipal.
JP Bechara Terraplenagem e Pavimentação Ltda. – Envolvida em consórcio de obras públicas, com menções em planilhas apreendidas.
Consórcio São Bernardo Soluções (SBS) – Recebeu R$ 174 milhões em 2025, sendo apontado como uma das principais fontes de recursos ilícitos.
CLD Construtora, Laços Detetores e Eletrônica Ltda. – Contrato prorrogado elevou o valor a R$ 43,3 milhões, com presença em anotações de operadores.
Ballarin Imobiliária – Ligada a Murilo Batista de Carvalho, apontado como responsável por entregar R$ 400 mil em espécie ao operador Paulo Iran.
Lara Central de Tratamento de Resíduos e Consórcio Peralta Ambiental Santo André – Empresas ligadas ao empresário Beto Peralta, que teria entregue valores diretamente ao prefeito afastado.
Terraplanagem Alzira Franco Ltda. – Citada em repasses feitos por Edimilson de Deus Carvalho.
BR7 Mobilidade – Empresa de Maria Beatriz Setti Braga, que assumiu o transporte coletivo da cidade, também aparece em planilhas do operador Paulo Iran.
MBR Participações S/A – Ligada a Anderson Paulo Bella da Silva e Milena Braga Romano, filha de Bia Braga, reforçando as conexões do setor de mobilidade com o esquema.
Câmara
Na Câmara Municipal, a crise dominou a sessão desta terça-feira (19). Com o auditório lotado, a nova presidente da Casa, Ana Nice – PT, abriu os trabalhos com 26 vereadores no painel, dois a menos devido ao afastamento de Danilo Lima e Ary Oliveira.
Além disso, os vereadores João Viana, Shell Gomes e Luana Eloá protocolaram requerimento para suspender os salários dos afastados, que chegam a R$ 19.960,05 mensais. O grupo também pediu acesso integral aos contratos investigados pela Polícia Federal.
Do mesmo modo, o líder do governo, Julinho Fuzari – Cidadania, apresentou pedido de abertura de uma CPI com 19 assinaturas. Contudo, ele esclareceu que: “Acontece que o regimento interno da Câmara não permite a abertura de mais do que duas CPIs simultâneas, ou seja, apesar de ter as assinaturas, já temos a CPI da EMAE e da Enel em andamento. Agora iremos conversar com os vereadores para dar celeridade às que estão em andamento para que possamos avançar”.