LAURA YAMANE
Em tempos de movimentos climáticos a moda também faz vendaval. E não desses que acabam com tudo, mas os que jogam para o alto, pra frente, a magnitude de talentos que durante muito tempo, o próprio São Paulo Fashion Week invisibilizou. Que bom que entre uma mudança e outra, o que importa de fato, vai se organizando em seus devidos lugares.
@weidersilveiro está saudoso. Não é fácil deixar o lar na busca pelo sonho. Quantas roupas cabem em uma mala de vida? Ele saiu do Piauí e viajou o mundo, mas sem esquecer do seu Nordeste, que idealiza de uma maneira chic, não óbvia. Malha, renda de bilro, drapeados e mil formas. A elegância de uma alfaiataria desabada se une aos símbolos discretos de festejos juninos, Reisado e Pau de Fitas. Essas fitas viram franjas, os balões de São João, modelagem balonê e, as manualidades, mostram que podem sair do lugar lembrança de feirinha de artesanato e ganhar status de luxo. Por que não?
E falando em sonhos, a @foz_____, de @castronio, sonhou com a possível Vida de Laura, tia-avó do designer que fugiu com o bando de Lampião quando ele passou no sertão alagoano nos anos 30. Sendo assim, a Foz levou à passarela elementos do Cangaço, mas fugindo da fórmula banal de recorrer às imagens de Lampião ou Maria Bonita. Os protagonistas são personagens que foram invisibilizados ou romantizados em uma história de violência, solidão, amor e coragem. E nesse baluarte da moda, bordados em rendendê, madrepérola, palha, madeira, fuxicos e renascenças costuraram esse cordel encantado de uma moda poética, que faz sentido existir.
Das boas estreias, os ventos também sopram lá pelo Norte. A paraense @normandooficial trouxe uma excelente coleção com sua visão de brasilidade, mas sem deixar de lado os elementos que compõem a história da marca:as matérias-primas como látex, a alfaiataria sexy, a cuia de tacacá que vira top e os letreiros dos barcos de pesca que se tornam looks desejo. A inspiração? O grupo de filósofos Vândalos do Apocalipse.
