Editorial – Aparências enganam

 Quem acreditar que os problemas do país estão resolvidos pelo simples fato de botar alguns mequetrefes para correr pondo outros no lugar, cairá em erro crasso. Os estragos causados pela ganância, megalomania e total falta de escrúpulos são bem mais profundos que aparentam.  Depois da saída dos militares do poder – já não davam mais lucro – primaram tendências complacentes, transformando liberdade em libertinagem, corrupção em estratégia de tomada e manutenção do poder e, enfaticamente, abrindo caminho para o primado de interesses de pessoas e grupos, contra os do país.  A crise decorrente tornou-se, além de epidêmica, em sistêmica. É estrutural. Nenhum dos pilares da democracia foi poupado, a saber: educação, saúde, segurança, infraestrutura e desenvolvimento econômico. Mas, pela fragilidade dos valores e princípios do conjunto social, o sistema se impôs no atacado e no varejo.  O Brasil se agita, hoje, em torno de seus canalhas prediletos. Fracassada a tentativa de domínio absoluto via pão e circo – sem chegar felizmente ao chicote e forca – a herança maldita e as contas a pagar pelos estragos são incomensuráveis. Os sucessores, quase sem exceções, estão lincados ao passado e não ao futuro.  Porém, aparentam santidade em festa leteia e convencem. O povo neles vota e confia, cego ao fato de as aparências enganarem. Seguiremos indefinidamente tendo mais do mesmo?