alunosAtualidadesHomeSão Caetano do Sul

Colégio Ateneu apresenta vencedores do concurso de redação

No mês de outubro os alunos produziram artigos sobre a a diversidade étnica e cultural no Brasil

 

O Colégio Ateneu o Novo Ensino Médio, situado em São Caetano, tem uma dinâmica de aulas de Itinerários Formativos. Na turma da área de Humanas e Linguagens, os alunos estão estudando as matrizes formadoras do Brasil e tem desafios mensais para cumprir.

 

As aulas são divididas em módulos e neste módulo específico o desafio dos alunos era montar um Concurso de Artigo de Opinião”, explica o professor Marcelo Mondim, Coordenador Pedagógico do Ensino Médio do Colégio.

 

Nas aulas de outubro e novembro de 2022 do Itinerário Formativo Integrado das áreas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e Linguagens e Códigos do Colégio Ateneu, os estudantes do Ensino Médio têm discutido a diversidade étnica do Brasil.

 

Neste período foram estudados temas como a valorização de características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, as desigualdades socioeconômicas e a crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes, que permeiam a sociedade brasileira.

 

Tudo isso oferece ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo e multifacetado.
Os estudantes foram desafiados a produzir um artigo de opinião que explicitasse a diversidade étnica e cultural que compõe a sociedade brasileira, compreender suas relações, e apontar transformações necessárias, oferecendo elementos para a compreensão de que valorizar as diferenças étnicas e culturais não significa aderir aos valores do outro, mas respeitá-los como expressão da diversidade.

 

Confira os três melhores textos votados pelos estudantes e selecionados pelos professores e Equipe Pedagógica do Colégio Ateneu.

 

O brasileiro importado

 

Fernanda Morales Valverde

Fernanda Valverde – aluna do 2º ano do Ensino Médio

 

O brasileiro não é só um, o brasileiro são vários. O brasileiro é aquele que, a partir de três etnias diferentes, tornou-se um povo. Além disso, a miscigenação é o ponto comum entre todos nós, mas que, porventura, resulta nas distintas particularidades no modo de pensar e de ser de cada indivíduo. Assim, somos aqueles que estão em construção e, ainda, reduzidos a uma vaga perspectiva de quem realmente somos.

O brasileiro é o sujeito que leva para frente o conflito e o confronto por conta da miscigenação. O próprio processo histórico de formação social do Brasil evidencia que a colonização não foi apenas um plano econômico, mas sim, uma cultura que prolongou a violência e o racismo estrutural em nossa sociedade.

O filme Medida Provisória, de Lázaro Ramos, apresenta essa negação de descendência, principalmente pelos brancos. Nessa produção audiovisual, ocorre a criação de uma lei que determina que as pessoas pretas devem migrar para o continente Africano com a finalidade de entender as suas origens e as suas tradições, no entanto, essas já estão exatamente onde eles vivem, no Brasil.

 

Tom Jobim disse uma vez: “No Brasil, é tudo importado: eu, você, a língua, os índios, a cana-de-açúcar e o café.” A frase do músico denuncia essa confluência que constrói o país nos aspectos socioculturais e políticos. Assim, em vista da mistura do indígena, do africano e do lusitano que vieram para o Brasil, nossa língua é a fusão da portuguesa com influência Tupi, a cana-de-açúcar, por exemplo, é originária da Europa, assim como o café é da África. Porém, no fim, tudo se encontra no mesmo princípio, a composição de acordo com a mestiçagem do povo brasileiro. Esse ser que pouco a pouco tenta descobrir sua identidade, mesmo que complexa e híbrida, mas sem dúvidas, a mais contrastante em um cenário étnico.

 

Desse modo, é necessário que olhemos para dentro do nosso país para entender o sentido, a cultura e a essência de nosso povo. O brasileiro tem várias cores, rostos, corpos, traços e entrelinhas mal interpretadas e desvalorizadas por nós mesmos.

 

Portanto, não deveria ser necessário encaixarmo-nos em moldes europeus ou quaisquer outros, visto que somos o novo e somos o diverso.

 

 

Brasil: a busca por uma identidade
Ingrid Pais Soares Selotto

Ingrid Pais Soares Selotto – aluna do 2º ano do Ensino Médio

 

A identidade brasileira é uma incógnita. Ela foi e se mantém uma trajetória dolorosa desde a colonização em que foram estabelecidas as três matrizes dessa sociedade miscigenada – os portugueses buscando colonizar o território, os indígenas como povo nativo e, por fim, a matriz africana chegando forçadamente à nação sem identidade. O Brasil, ou seja, o povo brasileiro, foi fruto de um “estupro” e o brasileiro é o Moacir, o filho da dor, como dizia José de Alencar em seu livro Iracema.

A priori, a identidade se faz primordial em uma nação. Visto que são as raízes que unem o povo, a origem e, simultaneamente, a direção, como pregava Parmenídes, um filósofo pré-socrático da Antiguidade, ao se posicionar sobre a razão como centro do pensamento, para assim o indivíduo entender a si mesmo.

Nessa linha, é possível ver a busca pela identidade no livro Macunaíma, do escritor modernista Mário de Andrade. Nele, o herói brasileiro vai em busca do seu amuleto, que se remete à busca pelo significado do ser brasileiro. Assim, nessa trajetória, ele segue passando por diversos locais do país e observando as contradições, as divisões demarcadas entre uma região e outra; como a brutalidade de sua terra nativa no meio do mato virgem e o urbano de São Paulo. Desse modo, é possível ver os abismos entre diferentes regiões de um mesmo território e, seria de fato interessante uma desregionalização, pois, mesmo havendo culturas diferentes em um mesmo país não haveria barreiras, e o povo seria unificado.  Essa ideia é trazida novamente pelo autor Mário de Andrade na obra O Turista Aprendiz: “um dos meus interesses foi desrespeitar lendariamente a geografia e a fauna e flora geográficas. Assim desregionalizava o mais possível a criação ao mesmo tempo que conseguia o mérito de conceber literariamente o Brasil como entidade homogênea – um conceito étnico nacional e geográfico.”

 

Além disso, mantendo a questão da origem e da vinda das matrizes estrangeiras, é interessante salientar que o processo identitário do Brasil não foi pacífico como pregava o sociólogo brasileiro Gilberto Freyre. É possível notar seu pensamento de pacificidade cultural na frase: “Em nenhuma parte do Brasil a formação da família processou-se tão aristocraticamente como entre canaviais.” Logo, é notável que o sociólogo acreditava que o Brasil possuiu uma democracia racial, algo claramente mitológico, pois, a violência predominava, em especial, entre o senhor de engenho e os escravos, assunto abordado no livro Casa Grande e Senzala, de Freyre.

Sendo assim, o povo precisa olhar para o interior e entender sua origem, e que esse ciclo, essas rimas históricas precisam encerrar, para assim começar uma fase em que o Brasil valorize sua cultura, sem preconceitos e possa unificar-se, tornando-se original e não mais se inspirando em países acima da linha do Equador. Desse modo, construirão uma essência única.

 

 

Brasil: a busca por uma identidade

 

Luís Fernando Nunes Oliveira

Luís Fernando Nunes Oliveira – aluno do 1º ano do Ensino Médio

 

Em meio à mata virgem não nasceu somente Macunaíma, nasceu também o brasileiro. O brasileiro que tem sua genética miscigenada, que tem como parte da sua matriz a luso-europeia, a indígena e a africana, porém, não se reconhece como parte delas, visto que, ao se voltar para a cidade, não se identifica mais com os brancos que lá se encontram e, ao regressar aos quilombos, sente-se deslocado dos meios que deveriam lhe pertencer. Além disso, também estranha a “primitividade” indígena e se perde em meio aos variados costumes europeus. Desse modo, o Brasil é um país com uma história conturbada e repleta de unicidades, e o mesmo vale para o seu povo, que traz consigo uma variedade etnocultural que se torna abrupta às culturas de outros povos. No entanto, tal miscigenação não vem acompanhada somente de benefícios, pois a falta de identidade, a dúvida do seu pertencimento e, principalmente, o ódio ao passado estão presentes nesse processo.

 

A história da composição miscigenada da população do Brasil pode ser contada pelo processo de formação do país pode resultar em sua redenção. Segundo Milton Santos: “o sucesso de um país é o reconhecimento e o desenvolvimento de uma identidade nacional a partir do orgulho dessa mistura étnica”. Entretanto, o maior problema do Brasil se dá porque somos privados constantemente de nossa herança sociocultural.

 

Desde os primórdios de nossa sociedade, temos a censura e a alteração de inúmeros fatos de forma a contribuir para uma construção ideológica. Uma prova desse processo se dá pela independência brasileira, muitas vezes distorcido, se manteve como importante marco na história, a qual, ao contrário da de muitos outros países, não tem sua glória fadada a um pequeno dia, a um momento preso na história, mas sim à glória do processo da independência presente junto a ele fazendo com que se estenda desde 1822 e continue ocorrendo até os dias atuais.

Assim, acredita-se que o Brasil ainda precisa construir sua identidade como povo, pois, diferentemente de outros países, sua nacionalidade é relacionada ao povo e a sua cultura – não ao seu território.

 

Mostrar Mais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Ver também
Fechar
Botão Voltar ao topo