Durante anos, consolidou-se a ideia de que vivemos sob o signo da “geração saúde”. Academias cheias, corridas de rua, aplicativos de bem-estar, suplementos, discursos sobre alta performance e autocuidado criaram a impressão de que os jovens nunca estiveram tão atentos ao próprio corpo. No entanto, os dados desmontam essa narrativa com contundência. O que se vê, na prática, é uma geração que aparenta vitalidade, mas carrega riscos silenciosos cada vez mais precoces.
Homens e mulheres com menos de 30 anos já apresentam fatores de risco cardiovascular que, até pouco tempo atrás, eram comuns apenas após os 40. Levantamentos internacionais indicam que uma parcela significativa dos jovens adultos já convive com hipertensão, colesterol alto ou níveis considerados limítrofes, muitas vezes sem diagnóstico. Isso significa que milhares de pessoas iniciam a vida adulta com um processo de adoecimento em curso, invisível, porém progressivo.
O problema não está na falta de informação, mas no modo como o estilo de vida contemporâneo se organiza. A rotina moderna combina sedentarismo disfarçado de cansaço, alimentação baseada em ultraprocessados, excesso de telas, privação crônica de sono e jornadas de trabalho extensas. Soma-se a isso o consumo frequente de álcool, energéticos, estimulantes e cigarros eletrônicos, além da busca incessante por produtividade e desempenho. O corpo, submetido a esse ritmo, entra em desequilíbrio metabólico, acelerando o envelhecimento do sistema cardiovascular.
Entre os homens jovens, o cenário é especialmente preocupante. A cultura da performance permanente incentiva o uso de substâncias para treinar mais, render mais e suportar mais horas acordado. O resultado é um coração submetido a estímulos constantes, inflamação vascular e sobrecarga, mesmo em indivíduos que aparentam boa forma física. A estética saudável, nesse contexto, funciona como uma cortina de fumaça para riscos reais.
As mulheres, por sua vez, enfrentam fatores específicos que antecipam o surgimento de doenças cardiovasculares, ligados a condições hormonais, metabólicas e inflamatórias. Isso reforça que o problema não escolhe gênero e que a ideia de proteção automática associada à juventude ou ao sexo feminino já não se sustenta.
Não se trata de exceção, mas de uma tendência que atravessa fronteiras e revela um paradoxo inquietante: nunca se falou tanto em saúde, e nunca se adoeceu tão cedo.


