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Professora da rede municipal transforma literatura em teatro e promove reflexão antirracista contínua na EMEF Oswaldo Samuel Massei

 

A EMEF Oswaldo Samuel Massei, no Bairro Oswaldo Cruz, da rede municipal de São Caetano do Sul, tem sido palco de um trabalho profundo e contínuo sobre identidade, memória e enfrentamento ao racismo, conduzido pela professora de Língua Portuguesa Jussara de Araújo com os estudantes dos 6º anos. A iniciativa, construída ao longo do ano letivo, utiliza a literatura como ponto de partida para promover discussão, sensibilidade e consciência crítica na formação dos alunos.

O projeto nasceu da leitura de trechos do livro Cartas para Minha Avó, de Djamila Ribeiro, presente no livro didático utilizado pela rede. A obra chamou a atenção da professora por dialogar diretamente com sua própria trajetória familiar e por tratar, com delicadeza e profundidade, situações de racismo vividas no cotidiano.

Fotos: Divulgação/PMSCS

 

“Essa história me atravessa. Sou filha e neta de pessoas negras, fui criada pela minha avó e reconheço nesses relatos marcas que também fazem parte da minha vida”, relata Jussara.

A partir desse encontro entre vivência pessoal e literatura, a docente construiu um roteiro teatral autoral, combinando trechos do livro, passagens do material didático e elementos de criação poética. O espetáculo evidencia como episódios aparentemente corriqueiros, mas marcados por discriminação racial, deixam cicatrizes profundas e silenciosas.

A peça já foi apresentada na escola para pais e responsáveis e integra a programação do AfroSanca, evento municipal que ocorrerá no dia 29 de novembro, no Espaço Verde Chico Mendes. A apresentação dos alunos se encerra ao som de Olhos Coloridos, canção do compositor Macau e eternizada na voz de Sandra de Sá, simbolizando valorização da ancestralidade afro-brasileira. A música Cabelo, interpretada por Jorge Ben Jor, também é outra importante obra que faz parte da trilha sonora – a letra usa o cabelo como metáfora de identidade e, assim, dialoga com a peça.

Para Jussara, o trabalho é contínuo — e não restrito ao mês da Consciência Negra. “Não trato esse tema por obrigação, mas porque faz parte de quem eu sou. Falar sobre identidade, respeito e racismo é natural para mim, e acredito que precisa ser natural também na escola. Muitos alunos convivem pouco com pessoas negras; a sala de aula é o espaço para ampliar esse olhar”, destaca.

A professora reforça que, além do tema racial, trabalha com seus alunos questões relacionadas ao respeito às diferenças de maneira ampla, incluindo orientação sexual, gênero e outras dimensões da convivência humana. “É um trabalho de transformação. São conversas que moldam a forma de os estudantes enxergarem o outro.”

O projeto realizado por Jussara dialoga diretamente com as diretrizes do novo eixo de Educação Afro-Brasileira e Indígena, do NAEI (Núcleo de Apoio à Educação Inclusiva), da Secretaria de Educação.

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