Que muita gente anda se aventurando com a inteligência artificial, inclusive substituindo namoros por conversas com robôs, já não é novidade. E embora seja preocupante, mais grave ainda é o fato de alguns recorrerem ao ChatGPT e outras inteligências artificiais para fazer contratos, tirar dúvidas jurídicas ou até pedir pareceres. Só tem um detalhe: ele não é advogado. E quem confia nisso assume um risco sério.
A segurança jurídica dessas pessoas fica em jogo. Além de o barato sair caro, corrigir o erro depois custa muito mais do que prevenir. A economia aparente pode se transformar em prejuízo financeiro, patrimonial e até pessoal. E o pior: às vezes não tem conserto.
O problema não é só técnico. A inteligência artificial “alucina” ao inventar artigos de lei e jurisprudências inexistentes, pois foi criada para agradar, não para assumir responsabilidade. Além disso, o Direito não se resume a aplicar a letra da lei, é uma questão de estratégia, interpretação e visão de futuro. Sem isso, o resultado pode ser desastroso.
Também não há personalização real. Em contratos, por exemplo, a cláusula que parece proteger pode se voltar contra o próprio contratante. Somente o olhar humano de um advogado experiente consegue antecipar riscos e indicar alternativas seguras.
A IA carece de conhecimento específico, prática forense e, sobretudo, sensibilidade humana. Pior: enquanto o advogado tem o dever legal de sigilo e responde por seus atos, a máquina não guarda confidencialidade nem assume responsabilidades. Colocar sua vida, sua família e seu patrimônio nas mãos de um robô é, no mínimo, temerário.
Mesmo quem ousa substituir o advogado pela IA não faria o mesmo com a própria profissão. Afinal, todos sabemos que qualificação importa. E, no Direito, essa necessidade é ainda maior. Cada processo é único, e o juiz que o julga é humano, com valores, visões e interpretações que variam caso a caso, não seguindo uma lógica pré-definida. O Direito é uma ciência humana, não exata. É justamente por isso que o advogado é indispensável: ele é o primeiro juiz da causa, analisa as vertentes e ajuda o cliente a escolher o caminho mais adequado.
No fim das contas, informação não é conhecimento. E justiça não é lógica matemática. Toda escolha envolve riscos e vantagens, mas somente com conhecimento técnico e, sobretudo, humano, é possível decidir de forma segura. Por isso, mais do que nunca, a inteligência artificial pode ser uma ferramenta, mas jamais um substituto da advocacia.
Munick Rabuscky Davanzo