As eternas obras do corredor de ônibus BRT-ABC voltaram ao centro das atenções políticas e sociais devido às falas do governador Tarcísio de Freitas – Republicanos, durante sua visita à região do ABC. Além disso, a polêmica ganhou força porque o chefe do Executivo estadual admitiu estar “muito desconfortável” com o ritmo do empreendimento e chegou a mencionar a possibilidade de decretar a caducidade do contrato com a concessionária responsável Next Mobilidade.
O sistema de média capacidade foi idealizado pela antiga Metra, que desde 1997 administra o Corredor ABD. Contudo, o projeto só ganhou respaldo oficial em 2019, quando o então governador João Doria decidiu cancelar a Linha 18-Bronze do monotrilho e substituí-la pelo BRT. Ainda assim, a promessa inicial era concluir o corredor em 18 meses, algo que não se concretizou. Hoje, a população convive com uma obra que já se arrasta há seis anos, tempo considerado suficiente para a implantação de um metrô pesado.
Cronograma
Durante coletiva, Tarcísio reforçou que o cronograma de entrega — agora previsto para outubro de 2026, após cinco alterações — não será cumprido caso a concessionária não intensifique os trabalhos. “A gente também está muito desconfortável com essas obras do BRT. A minha ideia é já começar a aplicar sanções e pactuar com a empresa. Primeiro, a contratação de boas empresas para fazer a obra; segundo, a execução da obra em margem urbana”, afirmou o governador.
Turnos
Nesse sentido, Tarcísio também exigiu a abertura de mais turnos de trabalho. “Se a gente continuar trabalhando em turno único, não vamos cumprir o cronograma que está estabelecido, que é de outubro do ano que vem. Para que esse cronograma seja cumprido, existem seis obras de arte a serem feitas, e elas sequer foram iniciadas”, criticou. Em outras palavras, o governador cobrou “trabalho profissional em margem urbana” para evitar novo atraso.
Caducidade
Em outro momento, o tom foi ainda mais duro. “Há o risco, inclusive, de decretar a caducidade da concessão. Vamos apertar para que o cronograma seja cumprido. Vamos exigir performance, como tem que ser. Reclamar do baixo andamento da obra não resolve, nós também estamos preocupados com isso”, disse Tarcísio, acrescentando que pretende impor “mais um plano de trabalho” à Next Mobilidade.
Resposta
Porém, a concessionária rebateu as críticas, através de nota enviada ao REPÓRTER. Segundo a empresa, o BRT-ABC é “um sistema de transporte moderno, limpo e inovador, com ônibus de alta capacidade em modelo inédito na América Latina”. A Next destacou ainda que os veículos terão tecnologia elétrica, padrão europeu e serão silenciosos e não poluentes. “Mais do que um corredor exclusivo e uma nova frota, o projeto integra uma requalificação completa da mobilidade no ABC”, frisou a nota.
Ainda mais, a concessionária justificou os atrasos com exigências ambientais para o licenciamento e com ações judiciais que impactaram o cronograma. “Até o momento, já foram concluídos aproximadamente 50% da pavimentação prevista”, disse a empresa. A Next afirmou também que “as maiores obras de arte já estão em execução, e brevemente serão iniciadas as demais, de forma a cumprirmos o novo cronograma acordado”.
Do mesmo modo, a companhia informou que novos turnos e frentes de trabalho estão sendo criados para acelerar o andamento. “Reiteramos nosso compromisso institucional com o atendimento das determinações regulatórias, e em colaborar com a busca de soluções conjuntas para conclusão deste importante projeto para a população”, finalizou a nota.
Histórico
O BRT-ABC começou a ser construído em fevereiro de 2022, com investimento exclusivo da iniciativa privada no valor de R$ 860 milhões. Apesar disso, a obra acumula críticas pela lentidão. Quando concluído, o corredor de 17,3 km ligará São Bernardo a São Paulo, passando por Santo André e São Caetano, com 16 estações, três terminais e 82 ônibus elétricos articulados.
A expectativa oficial é atender 173 mil passageiros por dia. Contudo, moradores e especialistas ressaltam que o sistema terá capacidade menor que a Linha 18-Bronze, cancelada em 2019. Ainda assim, o governo e a concessionária afirmam que o BRT trará ganhos de tempo, conforto e sustentabilidade à mobilidade aos moradores do ABC.
