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Assédio ou cantada?

Em qualquer conversa de bar ou no grupo de solteiros, é comum ouvir mulheres reclamando: “Os homens não chegam mais”. Como tenho escutado isso com frequência, resolvi perguntar aos meus amigos homens se a afirmação é verdadeira. A resposta veio na lata: “Agora tudo é assédio”.

“Como assim?!” Eu, com minha cabeça de advogada e mulher, sempre achei nítida a diferença entre um flerte e uma violação. Mas parece que essa “fake news” da paquera ganhou corpo, atrapalhando os bem-intencionados e criando medo, tudo por falta de informação.

Sobrou então a mim a difícil e nobre missão de colocar luz a esse tema tão atual.  Afinal qual a diferença entre um assédio e uma cantada? As mulheres não gostam de ser abordadas? Eu como advogada, mulher e solteira, digo: depende.

A regra é simples: cantada é quando os dois sorriem, assédio é quando só um sorri e o outro se sente mal.

A primeira regra do flerte é o respeito aos limites. Depois do primeiro “não” ou de qualquer sinal de desconforto — seja uma recusa verbal, um afastamento físico ou uma mudança no olhar — qualquer insistência é, por consequência, assédio. Isso vale para tudo: desde um convite rejeitado até a insistência em um contato físico indesejado, como toques ou abraços.

 

O conteúdo também conta: a cantada deve ser um elogio ou um convite, mas nunca deve ser pejorativo ou ameaçador. Educação e bom senso ajudam muito nessa hora.

A cantada é uma forma de demonstrar interesse ou admiração, é uma forma de valorizar a pessoa sem objetifica-la enquanto o assédio é invasivo, indesejado e desrespeitoso.

Mais importante ainda é a forma com que essa paquera é feita: se a forma de falar é maliciosa, ou com olhar o lascivo (que devora a pessoa com os olhos), dificilmente a investida será bem recebida, ainda mais quando se trata de uma pessoa que você não conhece.

Por mais ousado que seja o seu estilo, uma cantada pesada só costuma funcionar com alguém que você já tem uma conexão. Afinal, a sua mãe também te ensinou a não falar com estranhos. Ou seja, com desconhecidos seja leve, o menos é mais.

Na internet, use a mesma régua do mundo real: se você não diria ao vivo, não envie. E nada de expor partes íntimas sem solicitação.

O contexto é, na verdade, o ponto alto da questão. Uma coisa é elogiar alguém que você já conhece ou ter um histórico de interações; outra completamente diferente é receber comentários de cunho sexual de quem você sequer conhece ou com quem não tem uma abertura para isso.

Mas o cupido mandou avisar que educação e bom senso nunca saem de moda. Que ainda vale a pena conversar com desconhecidos só que de forma mais sutil e elegante, e sempre é claro, observando o contexto da abordagem, mas também como essa abordagem está sendo recebida.

Se não houve abertura, agradeça e siga para a próxima oportunidade. O bonito do amor e da paquera é justamente que as possibilidades de combinações são infinitas e ainda há muitas pessoas a se conhecer. Só não podemos deixar o medo, a internet e preguiça nos tornarem cada vez mais apáticos à arte do flerte e do encontro a dois.

Portanto, a linha tênue entre um e outro é o respeito. A paquera não ficou chata — evoluiu e para melhor. Na arte da conquista hoje se destaca quem cuida da forma, do conteúdo e, sobretudo, do contexto da cantada. E a boa notícia: dá para flertar muito bem assim. Diga um “oi”, elogie com elegância, pergunte algo de verdade e escute com interesse, aceite o não e celebre o sim. No vasto mercado do amor, simpatia e respeito nunca saem de moda.

 

Munick Rabuscky Davanzo

 

 

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