HomePolíticaSão Bernardo do Campo

Inquérito revela novos detalhes do suposto esquema de corrupção em São Bernardo

Polícia Federal e Ministério Público apontam rede de propina envolvendo contratos públicos, lavagem de dinheiro e despesas pessoais custeadas com recursos ilícitos

O inquérito da PF – Polícia Federal, ao qual a reportagem teve acesso, traz detalhes inéditos sobre a operação Estafeta, que levou ao afastamento do prefeito de São Bernardo, Marcelo Lima – Podemos, e do presidente da Câmara Municipal, Danilo Lima Ramos – Podemos, na quinta-feira (14). Segundo a investigação, o ponto central do esquema é o servidor da Assembleia Legislativa, que está foragido, Paulo Iran Paulino Costa, investigado após a apreensão de R$ 14 milhões em espécie em seu apartamento, em julho deste ano.

 

Contratos

Ainda mais, as investigações indicam que Iran atuava como arrecadador e distribuidor de propina, recebendo valores de ao menos 12 empresas com contratos com a Prefeitura e com a Fundação ABC. O valor ilícito, de acordo com a PF, era fixado em 8% do montante dos contratos. Documentos e mensagens interceptadas mostram que o dinheiro beneficiava diretamente o prefeito, sua esposa, Rosangela dos Santos Lima Fernandes, e sua filha, Gabriele dos Santos Lima Fernandes.

Além disso, os promotores Sérgio Turra Sobrane e Márcio Augusto Friggi de Carvalho, que atuam no caso, destacam que despesas pessoais da família do prefeito foram pagas com recursos ilícitos, como passagens aéreas, personal trainer, boletos de faculdade e faturas de cartão de crédito. “A investigação identificou a apreensão de documentos que comprovam o pagamento de fatura de cartão de crédito do Prefeito e de conta telefônica de sua esposa. Ademais, houve pagamento da mensalidade da faculdade de medicina da filha, além de contas de consumo, cartões de crédito e despesas de viagem de toda a família”, diz trecho da decisão.

Nesse sentido, um dos documentos apreendidos revela um débito de R$ 19.182,14 identificado como “Pix Passagens” para uma companhia aérea dos Estados Unidos, referente a uma viagem feita por Rosangela de Washington (EUA) para Guarulhos, em junho de 2024. Para disfarçar movimentações, os envolvidos usavam códigos: a filha era chamada de “Bibi” e dólares eram tratados como “americano”.

Contudo, a PF também apontou que houve 25 depósitos fracionados de R$ 2 mil cada, estratégia usada para tentar burlar o controle do Coaf. A origem dos recursos estaria ligada a setores como saúde e coleta de lixo, cujas empresas eram beneficiadas por contratos milionários com o município.

 

Repercussão

Do mesmo modo, a repercussão política foi imediata. O deputado federal Alex Manente – Cidadania, lamentou o episódio, afirmando que, embora tivesse alertado sobre riscos de corrupção durante a campanha, o momento é de tristeza para a cidade. “São Bernardo ser palco de investigações de corrupção e lavagem de dinheiro só mancha a nossa história, assim como vimos em outras oportunidades”, declarou, colocando-se à disposição da vice-prefeita Jéssica Cormick – Avante, e pedindo transparência total nas investigações.

Ainda assim, o ex-prefeito Orlando Morando também se manifestou, lembrando que Marcelo Lima foi seu vice e que chegou a apoiá-lo no segundo turno. “Eu estou triste pela cidade. Ter São Bernardo no noticiário nacional dessa forma não é bom. Eu nunca imaginei que passaríamos por um momento tão triste”, afirmou em transmissão ao vivo.

 

Vice

Em entrevista à TV Globo, Jéssica Cormick confirmou que assume o cargo interinamente nesta sexta-feira (15), priorizando a continuidade dos serviços públicos. “O foco agora é 100% em garantir que a população seja plenamente atendida”, disse, ressaltando que também foi surpreendida pela operação.

Apesar disso, o PSOL de São Bernardo anunciou que vai protocolar pedido de impeachment contra o prefeito e de cassação de toda a chapa eleitoral, classificando o caso como “mais um capítulo lamentável na história de conchavos e uso indevido da máquina pública”. O partido defendeu que a cidade precisa de “uma gestão transparente, democrática e comprometida com o interesse público”.

 

Alvos

Juntamente com Marcelo Lima e Danilo Lima, outros nomes foram alvos da operação, incluindo secretários, vereadores, servidores e empresários. Entre eles, Antonio Rene da Silva Chagas, conhecido como “Renegade”; Fabio Augusto do Prado, apelidado de “Sacolão”; Roque Araújo Neto, ligado a um crédito de R$ 390 mil; e empresários como Felipe e Caio Fabri, da Quality Medical, associados a R$ 666 mil, e Luís Roberto Peralta e Leonardo Agnello Pegoraro, do Consórcio São Bernardo Soluções, ligados a pagamentos de R$ 174 mil.
Porém, o inquérito mostra que o esquema também envolvia empresas sem contratos diretos com a Prefeitura, como a Ballarin Imobiliária e a Terraplanagem Alzira Franco, citadas em anotações com valores de até R$ 30 mil. Nomes como Ary José de Oliveira, vereador, e Paulo Sérgio Guidetti, ex-secretário de Administração, também aparecem em conversas e registros apreendidos. Tentamos contato com Marcelo Lima, mas não obtivemos retorno.

Mostrar Mais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo