Por Daniel Rela
Na Copa do Mundo de Clubes, vimos o Botafogo vencer o poderoso PSG, em mais uma prova de que a lógica não é tão exata no futebol. Vimos o Fluminense chegar na semifinal. A famosa zebra mostrou-se mais viva do que nunca, mesmo diante de disparidades financeiras crescentes. No Brasil e na América Latina, essa distância entre os clubes tem crescido, principalmente quando falamos de Flamengo e Palmeiras, com suas excelentes administrações da última década.
Mas é futebol! E, curiosamente, os super ricos foram eliminados da Copa do Brasil pelos endividados, acima do bilhão de reais, Atlético Mineiro e Corinthians, respectivamente. Para além daqueles velhos ditados da bola, “dentro de campo são 11 contra 11”, “o jogo só acaba quando o juiz apita”, e tantas outras que ilustram o futebol, existe um fator que muitos deixaram de levar em conta: a torcida.
Enquanto a soberba toma conta das redes sociais e das arquibancadas do Maracanã e do Allianz Parque, o sofrimento com o noticiário sobre dívidas, salários atrasados e casos de polícia fazem parte da rotina de atleticanos e corintianos. As torcidas do Galo e do Timão convivem com o medo da falência, em situações aparentemente irreversíveis.
Essa dor, por incrível que pareça, aumenta a paixão, a energia para empurrar o time do coração. Foi o que vimos na capital paulista. Enquanto a torcida do Palmeiras entregava cestas de café da manhã, ironizando o time chamado agora de “Nutella”, uma nova forma antagônica para o termo raiz, os corintianos faziam festa no CT antes e durante a saída do time rumo ao jogo decisivo. Deixavam claro que era o jogo do ano, um título diante da realidade dura do clube.
Nesse cenário, o que se viu dentro do campo, com apenas palmeirenses no estádio, foi a transformação de caldeirão para vulcão, onde a larva queimou apenas os donos da casa. Literalmente, a torcida jogou contra. Sobrou até para Abel Ferreira, técnico que em cinco anos ganhou 10 títulos, e se tornou o maior vencedor da história do clube. Abel é humano, erra como todos nós. Erra mais fora das quatro linhas, no tratamento com a imprensa, nas críticas unilaterais ao Brasil e à nossa cultura, que fez dele um Deus para a nação palestrina. Deu pena!
Se aqui só tem valor quem é campeão, imagina perder um título e depois ser eliminado pelo maior rival? Nenhum retrospecto muito positivo resiste. No No entanto, existem torcidas como as de Corinthians e Galo, que não desistem nunca, e deixam para depois do apito final as vaias, xingamentos e protestos. Isso faz total diferença. Os jogadores sabem que terão o apoio necessário durante os 90 minutos, e a maioria deles, se dedica mais, usa o psicológico para ter mais forças. Afinal, quem gosta de ser xingado?
No futebol tudo é possível, ainda mais com torcidas que apoiam do início ao fim.
A do Palmeiras parece que desaprendeu a torcer de verdade. Trocar o hino do Brasil por “meu Palmeiras, meu Palmeiras, meu Palmeiras”, não está dando certo.