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A coragem até o fim

O Brasil amanheceu mais triste nesta semana. Perdemos Preta Gil, artista vibrante, mulher de voz potente, e, sobretudo, um ser humano que escolheu transformar sua dor em potência.

Desde o diagnóstico de um câncer no intestino, em 2023, Preta fez mais do que lutar por sua vida: ela decidiu lutar por outras vidas também. E isso fez dela ainda mais gigante do que já era.

Ao longo do tratamento, enfrentou cirurgias, internações, dias difíceis de recuperação, limitações físicas e um processo doloroso de transformação. Mas em nenhum momento escolheu o silêncio. Falou com coragem sobre cada etapa da doença, com a clareza de quem sabia que estava abrindo um caminho de empatia, informação e acolhimento.

Preta sabia que, ao expor sua luta, encorajaria outros a se cuidarem, a prestarem atenção aos sinais do corpo e, sobretudo, a não sentirem vergonha de enfrentar algo tão sério.

Ela quebrou tabus ao falar do próprio corpo em transformação. Expôs o que muitas pessoas preferem esconder, não por vaidade, mas por medo da rejeição e do preconceito. E foi aí que sua coragem brilhou ainda mais. Preta não foi apenas paciente; foi ativista, foi pedagoga, foi referência. Transformou seu tratamento em trincheira, seu relato em luz, seu cansaço em movimento.

Mesmo diante da dor, nunca deixou de ser presença. Continuou conectada ao público, à família e aos amigos, que tanto a amavam. Quando podia, sorria. Quando não podia, resistia. Sua humanidade era pulsante, e sua força, inspiradora.

Ao tornar público o que poderia ter vivido na intimidade, tocou milhares de pessoas que se viram nela. Mulheres, negras, artistas, mães, filhas, pessoas vivendo com câncer. Todos encontraram em Preta não apenas uma figura conhecida, mas um espelho possível de dignidade e esperança.

Sua partida é uma perda imensa. Mas seu legado é vivo.

Preta Gil nos deixa uma mensagem clara: falar é poder. Sentir medo não é fraqueza. Viver com verdade é o maior ato de coragem. Ela ensinou que a vulnerabilidade pode ser uma forma de força, e que a dor, quando compartilhada com amor, pode curar muito mais do que um corpo.

O Brasil chora a morte de uma artista, mas celebra a existência de uma mulher que escolheu viver com integridade até o fim. Sua vida foi palco de tantas lutas — pela arte, pela liberdade, pela diversidade, pela saúde. E sua última batalha, embora cruel, foi marcada por dignidade e luz.

Que a coragem de Preta Gil continue a inspirar. Que sua história siga sendo contada não apenas pelo que fez nos palcos, mas pelo que ensinou fora deles.
Nossas condolências a toda a família Gil.

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