O Governo do Estado de São Paulo publicou no Diário Oficial, no dia 15 de maio, o encerramento oficial do projeto da Linha 18-Bronze, que ligaria a capital paulista às cidades do ABC por meio de um monotrilho. O fim do contrato, firmado entre a SPI – Secretaria de Parcerias e Investimentos e o consórcio responsável pelas obras, resultou em um acordo de indenização no valor de R$ 335,4 milhões.
Além disso, o governo paulista encerra definitivamente uma novela que se arrasta desde 2019, quando o então governador João Doria decidiu, de forma unilateral, substituir o monotrilho por um sistema de BRT – Bus Rapid Transit. A decisão gerou forte resistência de moradores, especialistas e lideranças políticas da região, que acusam o governo de abandonar um projeto estratégico para a mobilidade urbana.
Em nota oficial, o governo justificou a decisão como uma saída “consensual” para evitar maiores prejuízos aos cofres públicos. “O contrato foi assinado em 2014 e extinto em 2020 diante da inviabilidade de execução do projeto. Em 2023, a concessionária entrou com pedido de indenização de R$ 2,4 bilhões. Após anos de litígio, o Estado firmou um acordo de R$ 335,4 milhões, garantindo uma redução estimada em 86% no valor inicialmente pleiteado”, explicou o governo.
Ainda assim, o Executivo estadual argumenta que a medida “evita condenações mais elevadas, elimina custos com judicializações e traz previsibilidade fiscal”. Em outras palavras, o governo defende que o acordo reafirma seu compromisso com a segurança jurídica, a transparência e a atração de investimentos.
Vergonha
Porém, a decisão segue sendo alvo de críticas. Para o deputado estadual Luiz Fernando – PT, o desfecho é um golpe contra a população do ABC. “É uma vergonha. O Metrô já estava com o projeto feito, licitado e contratado. João Doria, Orlando Morando e tantos outros políticos aliados disseram ‘amém’ quando o ex-governador resolveu tirar esse direito da nossa região da noite para o dia”, disparou.
Além disso, o parlamentar lembra que entrou com uma denúncia no Ministério Público em 2021, o que resultou na abertura de um inquérito civil. “Infelizmente, a morosidade fez com que o prejuízo financeiro já tenha sido consolidado: são mais de R$ 300 milhões que o Governo do Estado de São Paulo pagará à extinta Concessionária do Monotrilho Linha 18 Bronze S/A”, afirmou.
Nesse sentido, Luiz Fernando cobra responsabilização dos envolvidos. “Cumpre, agora, punir os responsáveis por esse prejuízo milionário. Não vou me calar perante um absurdo desses. A população não pode pagar a conta do ex-governador e ficar sem o Metrô. Sem dúvida nenhuma”, concluiu.
Inviável
Contudo, há quem defenda que o projeto já estava inviável. A deputada estadual Carla Morando – PSDB, por meio de nota, destacou que desde o início das discussões acompanha o tema de perto e reafirma seu compromisso com a mobilidade no ABC. “O BRT ABC, que segue o traçado da antiga Linha 18, está sendo implementado com recursos privados. Além disso, o governo fará a devolução dos valores aportados pelos municípios”, informou a nota.
Do mesmo modo, Carla reforça que, em contrapartida ao fim da Linha 18, atuou para priorizar a Linha 20-Rosa do Metrô, que ligará o ABC até a região da Saúde, na capital. O projeto, que terá cerca de 33 quilômetros e 24 estações, promete atender até 1,3 milhão de passageiros por dia.
Ainda mais, a deputada revelou que, segundo informações do secretário de Parcerias e Investimentos, Rafael Benini, o projeto da Linha 20 será apresentado ao governador Tarcísio de Freitas ainda no primeiro semestre deste ano. “O edital será lançado até o final de 2025 e as obras devem começar em 2026, com previsão de entrega total até 2035”, afirmou a nota.
Expectativa
Apesar disso, a população do ABC segue descrente e frustrada. O monotrilho era uma promessa desde 2014, durante o governo de Geraldo Alckmin, e previa 15,7 km de extensão com 13 estações, passando por São Caetano, Santo André e São Bernardo.
MARCOS FIDELIS