Laura Yamane
A edição N59 do São Paulo Fashion Week (SPFW) levou principalmente poesia circense, cultura popular brasileira e sustentabilidade às passarelas
A edição do SPFW N59 movimentou a Capital paulista nesta última semana. Celebrada entre os dias 6 e 11 de abril, trouxe uma série de desfiles marcantes que refletem a diversidade e a inovação da moda brasileira. O retorno: a Piet, de Pedro Andrade, retorna a SPFW após 6 anos sem desfilar e encerra o evento com desfile no recém restaurado Estádio do Pacaembu.
– SPFW N59
Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite
SPFW N59
Foto: Gustavo Scatena/@agfotosite
Confira:
Abertura Circence com alfaiataria
A marca Aluf, sob a direção de Ana Luisa Fernandes, inaugurou a semana de moda no domingo (6/4) com a coleção “Malabares”. Inspirada no universo circense, a apresentação combinou elementos lúdicos com cortes de alfaiataria precisos, o que criou uma atmosfera poética que encantou o público. Segundo Ana Luisa, a ideia veio de forma lúdica: E essa reflexão me trouxe para o universo do circo. Então, a coleção Malabares faz um paralelo entre o universo da moda e esse momento do espetáculo”, comentou a diretora artística.
Moda e cultura urbana
Na segunda-feira (7/4), Alexandre Herchcovitch apresentou sua coleção na casa noturna Blue Space, conhecida por suas performances de drag queens. O desfile destacou peças em cores fluorescentes e detalhes que brilham no escuro, reforçando a conexão entre moda e cultura urbana. “Eu acho que a minha vontade de fazer exercícios de cultura, corte, modelagem e construção é muito maior do que escolher um tema e ficar apegado a ele. Muitas dessas construções e dessas famílias que eu trabalho são meramente exercícios de forma, modelagem, o que o material me permite fazer”, disse o estilista Em seu desfile, se destacou a modelo Caroline Ribeiro.
30 anos de Inovação
Lino Villaventura, presente em todas as edições do SPFW, celebrou 30 anos de carreira com uma coleção que revisita suas silhuetas icônicas e introduz novos tecidos, reafirmando seu compromisso com a inovação e a arte na moda. A ideia foi, principalmente, recriar looks do passado com novos materiais, mostrando seu dom na manipulação de tecidos e materiais, entre eles: palha, matelassê e pele de cobra.
Estreias promissoras: Leandro Castro e MNMAL
SPFW N59
Foto: Ze Takahashi/ @agfotosite
A semana também foi palco para novos talentos. Leandro Castro estreou com a coleção “Linha”, utilizando resíduos da indústria têxtil para criar formas inovadoras, destacando a sustentabilidade na moda. Segundo o estilista, a ideia foi desenvolver peças a partir de resíduos têxteis ou materiais certificados.
Já a marca MNMAL apresentou peças que exploram a simplicidade e a funcionalidade, alinhadas às tendências contemporâneas.
Coleção super criativa e comercial patrocinada pela @vicunha . usou tecido plano feito do algodão natural marron e jeans sustentável. Bela estréia !!!
Marcas nordestinas- Inpiração de suas regiões pelos olhos dos estilistas nordestinos
Entre as 17 marcas que compuseram o line-up da SPFW N59, apenas três são nordestinas. Ainda assim, essas três foram das que mais se destacaram no quesito imprimir identidade, técnica e potência narrativa nas passarelas. O piauiense Weider Silveiro, os baianos da Dendezeiro e o pernambucano Walério Araújo não apenas apresentaram coleções, mas reafirmaram o que significa fazer moda como discurso, território e afeto.
Mostram também que a moda nordestina é diversa como a região, e vai muito além do talento em unir manualidades tradicionais à moda: Weider é mestre da modelagem e um estilista latu senso; Hisan Silva e Pedro Batalha fazem da Dendezeiro vitrine do streetwear ativista, enquanto Walério é puro maximalismo tropical.
Com sua habitual sofisticação técnica, Weider apresentou um estudo minucioso sobre a feminilidade a partir de múltiplas representações da figura da Vênus – da pré-história à cultura pop. A coleção apostou em formas geométricas e arquitetônicas que evidenciam o domínio do designer sobre a construção da silhueta: cinturas marcadas, cortes que valorizam quadris e busto, além de uma elaborada paleta monocromática.
A Dendezeiro voltou à SPFW com a continuação de sua saga Brasiliano, agora com a “puxada pro Norte”. A marca baiana ampliou seu repertório estético ao mergulhar na cultura amazônica: dos peixes estampados ao uso da palha trançada em peças de alfaiataria desconstruída, cada elemento se articula como resistência e celebração.
Walério não se esquiva do exagero – ele o transforma em arma criativa. Nesta edição, levou à passarela um jogo conceitual entre frente e verso, visível e invisível, público e privado.
Laura Yamane
Foto: agfotosite