Por Roberta Pavan Borges Chagas
Vivemos tempos em que todos vendem o que querem ser — e poucos mostram o que realmente são. As redes sociais se tornaram vitrines digitais onde se expõe mais imagem do que essência, mais performance do que substância. E, nesse cenário, surge um risco silencioso, porém devastador: o de escolhermos profissionais, parceiros, ideias e até caminhos de vida com base em critérios frágeis, rasos e irreais.
É preciso ter lucidez para perceber o quanto essa lógica está nos afastando do essencial. A sensatez, a ética e o senso coletivo — valores que deveriam nortear nossas relações e escolhas — estão sendo sufocados pela busca cega por atenção, por relevância digital, por lucro a qualquer custo. O que antes era um espaço de troca, de construção e até de inspiração, tornou-se uma vitrine de egos inflados, de narrativas distorcidas e de uma competitividade que, longe de elevar, apenas desgasta e esvazia.
Zygmunt Bauman, Byung-Chul Han, Guy Debord, Carl Jung e Viktor Frankl são pensadores que nos ajudam a compreender o momento que vivemos. Todos, à sua maneira, alertam sobre os perigos da superficialidade, da vaidade disfarçada de virtude, e da falta de responsabilidade com o outro.
Vejo diariamente profissionais se colocando como autoridades em tudo, opinando sem preparo, apropriando-se de tragédias para autopromoção. E o mais grave: há quem escolha esses profissionais como referência. Por quê? Porque eles se parecem com o que muitos querem parecer. É a imagem validando a imagem — e não a essência reconhecendo a verdade.
Não escrevo como quem tem todas as respostas. Escrevo como quem busca. Busco compreender, estudar, refletir com coragem e com outros, sem me iludir com fórmulas prontas, com redes que confundem relevância com profundidade. Porque se existe uma saída para tudo isso, ela começa pela forma como escolhemos — e por quem decidimos ser ao fazer essas escolhas.
