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Sem ações efetivas, Billings sofre no descaso

Reservatório enfrenta pior volume em 10 anos

Em 2025, a Represa Billings completará 100 anos, mas o que deveria ser motivo de comemoração se torna uma preocupação para os moradores da região e especialistas em meio ambiente. O braço do Rio Grande, parte essencial do sistema que abastece o ABC Paulista e parte de São Paulo, opera atualmente com apenas 58% de sua capacidade. Esse nível é alarmante, especialmente quando comparado à crise hídrica de 2014, época em que o reservatório apresentava um volume ainda mais alto, de cerca de 68%.

Represa Billings

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A situação foi analisada pela bióloga Marta Marcondes, coordenadora do Projeto IPH – Índice de Poluentes Hídricos da USCS – Universidade Municipal de São Caetano, que alerta para os riscos dessa baixa histórica de volume e os impactos de atividades humanas no entorno.

Represa Billings

 

Segundo Marcondes, “grande parte do potencial de armazenamento de água da região do ABC vem das áreas de mananciais. O braço do Rio Grande, por exemplo, depende de rios que cruzam áreas como Santo André, São Bernardo e Paranapiacaba.” Entretanto, a expansão desordenada de empreendimentos próximos à represa ameaça essa recarga essencial, resultando em desmatamento e poluição.

 

 

Represa Billings

Contudo, além do impacto direto no nível da água, outros problemas agravam a qualidade do reservatório. Segundo Marcondes, “áreas como Pedreira, Grajaú e Jardim Apurá, em São Paulo, são as que mais contribuem para a poluição da Billings, despejando esgoto sem tratamento.” O bombeamento de águas do Rio Pinheiros, conhecido por seu alto grau de poluição, também tem contribuído para a degradação da qualidade da água, fazendo com que o impacto dessas áreas afete cada vez mais o volume útil do braço do Rio Grande.

 

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Riacho Grande

Além disso, motoristas que cruzam as rodovias Imigrantes, Anchieta e o Rodoanel se assustam com verdadeiras ilhas formadas no meio da água, resultado da baixa. O REPÓRTER pôde conferir a situação de perto no Riacho Grande, em São Bernardo, onde, na área que antes era frequentada por banhistas, agora há uma placa de “água imprópria” e os restaurantes “flutuantes” que ficavam dentro da água já estão quase em terra firme.

Privatização

A Sabesp, que recentemente passou por um processo de privatização, e o Governo do Estado de São Paulo ainda não entraram em consenso sobre medidas para proteger a Billings. Pesquisadores relatam que, até o momento, a empresa não ofereceu suporte a estudos e não apresentou um plano efetivo para conter a deterioração da represa.

“Desde setembro, temos solicitado uma reunião com a nova administração da Sabesp no Subcomitê Billings Tamanduateí, sem sucesso até o momento,” destaca Marcondes, apontando a falta de transparência sobre acordos de gestão entre a Sabesp e os municípios envolvidos.

Fiscalização

A falta de fiscalização nas margens da represa é outro ponto crítico. Recentemente, construções descontroladas têm surgido em áreas de proteção, sem que haja uma ação coordenada entre os órgãos municipais e estaduais. “Precisamos de uma fiscalização integrada, com uso de barcos, drones e efetivo policial,” comenta a bióloga, enfatizando que a ausência desses recursos permite o avanço de empreendimentos clandestinos.

“Ônibus” aquático

A expansão do transporte hidroviário entre a Pedreira e o Grajaú é outro fator controverso. Embora essa medida seja apresentada como um incentivo ao transporte sustentável, a bióloga alerta para os riscos envolvidos. “Hoje, a embarcação precisa desviar por áreas rasas, o que agita o fundo do reservatório e levanta partículas contaminantes,” explica Marcondes, acrescentando que essa iniciativa não atende à demanda local e ainda prejudica a qualidade da água.

Peixes

Ainda mais alarmante foi a recente mortandade de peixes na Billings, com a retirada de mais de 500 kg de peixes mortos da água. Marcondes explica que “há contaminação de pellets, pequenas esferas plásticas, além de poluentes industriais e baixa oxigenação, o que afeta a saúde dos peixes e representa riscos para quem consome pescado da região.”

Lei

Neste cenário crítico, questionamos o cumprimento da Constituição Paulista, ao Governo de São Paulo, que exige ressarcimento financeiro aos municípios impactados pela existência de reservatórios. Contudo, esse compromisso parece não estar sendo cumprido, e não recebemos respostas do Governo do Estado sobre a situação.

Descaso

Diante deste cenário, especialistas alertam a população sobre a necessidade de um consumo consciente da água e uma maior cobrança de ações efetivas do poder público. Como ressalta Marcondes, “se não houver uma proteção eficaz, perderemos a capacidade de abastecimento da Billings para a região do ABC, e isso é um impacto que ninguém quer enfrentar.”

Sabesp

Em nota, a Sabesp afirmou que o Sistema Integrado Metropolitano operava, nesta terça-feira (5), com 44,5% do volume total, índice superior ao registrado em 2021 (38,9%) e semelhante a 2022 (45,8%) – ambos anos de poucas chuvas, mas que não resultaram em desabastecimento. A companhia destacou que o sistema é composto por sete mananciais, permitindo que diferentes áreas sejam abastecidas por mais de uma fonte de água, conforme necessário.

Ainda de acordo com a Sabesp, o monitoramento dos mananciais conta com cerca de 90 sensores que medem a vazão, o nível da água, as chuvas, entre outros dados específicos. A empresa informou que investe em média R$ 1 bilhão por ano no combate às perdas de água nos municípios atendidos. Com relação aos sistemas de coleta e tratamento de esgoto, o novo contrato da Sabesp antecipa a meta de universalização de 2033 para 2029.

A Sabesp também ressaltou que o problema da ocupação desordenada e irregular nas bacias dos reservatórios de abastecimento acarreta uma série de impactos, como a disposição inadequada de resíduos sólidos, poluição difusa, assoreamento e lançamentos clandestinos de esgoto, entre outros.

 

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