O Sistema Rio Grande, uma das principais fontes de abastecimento de água para cidades do ABC, chegou a um nível preocupante. Atualmente, sua capacidade está em 61,7%, um índice inferior ao registrado durante as crises hídricas de 2014 (62,1%) e de 2021 (64,2%). Apesar de chuvas esparsas, a situação se agrava a cada dia, trazendo à tona discussões sobre a preservação dos mananciais da região.
Segundo o ambientalista José Contreras Castilho, o uso das águas da represa Billings para abastecer São Paulo tem impacto direto sobre o nível do reservatório. “Em um determinado momento, as águas da Billings passaram a ser direcionadas para a represa Guarapiranga, que, por ser artificial, tem seu nível controlado. Contudo, esse desvio de água para São Paulo acaba reduzindo o volume da Billings. Além disso, fatores como a evaporação também influenciam, mas acredito que o principal motivo seja esse desvio, especialmente em períodos de pouca chuva”, explica.
Ainda mais preocupante, conforme a bióloga Marta Marcondes, da USCS, é a falta de políticas eficazes para a preservação da área. “Estamos falando do braço do Rio Grande, onde a Sabesp faz a captação de água para a região do ABC. Entretanto, o avanço descontrolado da construção civil nas áreas de manancial tem impactado diretamente no volume de água. Além disso, a supressão de vegetação e a falta de cumprimento das leis ambientais contribuem para a situação atual”, afirma Marta.
Do mesmo modo, Marta destaca que, nos últimos dez anos, a região tem visto um aumento expressivo nas construções, muitas delas em áreas de preservação. “Nos anos de crise hídrica, como 2014, apesar da estiagem, o nível do braço do Rio Grande se mantinha elevado devido à recarga natural vinda das áreas verdes. Porém, a supressão da vegetação e o avanço do mercado imobiliário acabaram prejudicando essa recuperação”, completa.
Nos últimos seis meses, o Sistema Rio Grande perdeu 35,3% de seu volume, equivalente a 3,9 bilhões de litros de água, ou seja, aproximadamente 197.680 caminhões-pipa. Essa redução afeta diretamente o abastecimento de cerca de 1,4 milhão de pessoas, com uma produção de 4.690 litros de água tratada por segundo.