“Mirar: Quando os olhos se levantam”

Em comemoração aos seus dez anos, Coletivo Labirinto apresenta em Santo André o espetáculo teatral

 

O que pulsa a América Latina? É sobre esta pergunta que o Coletivo  Labirinto se debruçou durante o processo de criação do seu mais recente espetáculo, buscando rotas cênicas no sentido da discussão, da reelaboração, da luta e do sentido da presença em nosso continente. Depois de uma série de trabalhos teatrais em que levou à cena textos elaborados no além das fronteiras brasileiras – passando por dramaturgias de Argentina, Uruguai e Chile, por exemplo – o Labirinto aborda em “MIRAR…” tentativas de se (auto) reconhecer nas palavras, limites, histórias, dores, cores e sabores deste corpo e chão comuns, que são nosso continente.

Créditos: Mayra Azzi

Durante o primeiro semestre de 2024, a peça faz uma circulação por cidades do interior de São Paulo, graças ao projeto aprovado no Edital PROAC 02/2023.

Também faz parte do projeto o oferecimento da oficina intitulada “Mirando um teatro político: a América Latina como caminho” nas cidades de São José do Rio Preto, Tatuí e São Paulo, ministrado pelos integrantes do Coletivo Labirinto, de forma presencial, sobre os procedimentos criativos e a pesquisa do rupo acerca da dramaturgia latino-americana contemporânea. A participação no workshop é gratuita, aberta ao público interessado, e as informações de inscrição podem ser obtidas no perfil no Coletivo Labirinto no Instagram (@coletivo.labirinto) ou no local em que a peça será apresentada.

O espetáculo MIRAR: QUANDO OS OLHOS SE LEVANTAM tem texto e direção de Jé Oliveira e o elenco é formado pelos artistas-criadores Abel Xavier, Carol Vidotti, Emilene Gutierrez e Lua Bernardo (musicista).

Sinopse

Quatro caminhantes percorrem lugares e histórias da América Latina em uma espécie de busca-viagem por pertencimento. O espetáculo lança mão de expedientes contemporâneos para revelar o lastro da colonização, celebrar a potência da diversidade dos povos, e refletir aspectos contraditórios do nosso continente para mirar além das fronteiras.

O objeto disparador do processo criativo do espetáculo foi o livro Crônicas de Nuestra America, escrito por Augusto Boal e publicado em 1977. A obra reúne dez crônicas que versam sobre situações, ambiências e personagens  tipicamente latino-americanas, observadas e colhidas pelo diretor e dramaturgo desde sua saída do Brasil, em 1971, reflexo do endurecimento da ditadura militar em nosso país. Em diálogo com o contexto e conteúdo da obra de Boal, o Coletivo Labirinto propôs, durante o processo de criação deste espetáculo, um passeio sobre as atuais crônicas deste continente tão cheio de saques históricos, personalidade e contradições. A América Latina da década de 1970 em contágio e contato com os tempos atuais.

Para esta jornada, o Coletivo encontrou na parceria com o diretor e dramaturgo Jé Oliveira uma potente interlocução acerca de debates e necessidades estéticas e sociais, desenvolvendo conjuntamente um esquema de trabalho fortemente colaborativo e sensivelmente político.

Em sala de ensaio, toda a equipe artística desenvolveu uma série de procedimentos improvisacionais e de composição cênica que levantaram temáticas, caminhos dramatúrgicos e de encenação. O resultado é um espetáculo que mistura códigos expressivos baseados na relação com o espaço poético, com a musicalidade e símbolos visuais latinos e com a palavra na fronteira entre a postura épica e a vocação lírica. Tudo isso com vistas ao encontro de uma América Latina viva, diversa, corajosa e, espera-se, um pouco mais consciente. Quatro artistas em cena, outros tantos no processo criativo, e um desejo de lançar miradas mais adiante, mesmo que para dentro.

Desde sua fundação em 2013, o Coletivo Labirinto tem como pesquisa o olhar para as relações das pessoas com o seu panorama social através da dramaturgia latino-americana contemporânea. Neste trabalho a noção de sujeito e dramaturgia se volta para nós mesmos, brasileiras e brasileiros ensaiando uma viagem e uma investigação sobre o que é ser latino-americano. Apostando no tenso limiar entre a necessidade da denúncia e a carência do anúncio, o teatro é, mais do que nunca, um lugar de onde se mira.

 Palavras do diretor e dramaturgo

“Partindo de provocações cênicas tendo como base, num primeiro momento, o livro “Crônicas de Nuestra América”, escrito por Augusto Boal no exílio em 1971, o processo criativo levantou cenas que buscassem um mapeamento de acontecimentos sínteses de uma relação verificável e sintomática do nosso modo de se portar no continente latino-americano. Alguns lugares da América do Sul nos conduzem geograficamente por encontros com pessoas reais e ficcionalizadas, na intenção de refletirmos acerca da nossa contraditória condição de potencialidades humanas e saques históricos, fruto da colonização e genocídio dos povos originários presentes em nosso continente. Em diálogo e como complemento destes primeiros expedientes, foram investigados também dispositivos contemporâneos que contivessem um poder de síntese capaz de auxiliar na explicitação dos nossos posicionamentos críticos perante os entendimentos e impasses da nossa atual situação artística, social e política. “MIRAR: QUANDO OS OLHOS SE LEVANTAM” busca, desta forma, reconhecer, integrar e efetivar, seja no campo do simbólico ou no campo concreto das possibilidades, um movimento de “tirar os olhos do Atlântico”, assim como quem busca contato, arribando as vistas, mirando e elaborando um gesto cênico de ação para a construção de um pertencimento mais efetivo. Vislumbramos e buscamos, com base nas proposições cênicas deste trabalho, uma possibilidade de futuro menos móvel e mais integrado com a potência dos povos que integram a nossa América Latina.” – Jé Oliveira.

O Coletivo Labirinto (Abel Xavier, Carol Vidotti, Emilene Gutierrez e Wallyson Mota), que em 2023 comemorou 10 anos de existência, dedica-se à pesquisa e criação cênica. Surgido no ano das emblemáticas manifestações políticas pelo preço do transporte público (e que logo em seguida se pasteurizam em reivindicações genéricas e pouco objetivas), acompanhou a transformação dos processos sociais no Brasil e testemunhou o avanço das pautas neoliberais e a discussão um tanto incerta sobre os rumos políticos do país.

O grupo pôde, com isso, perceber semelhanças entre essa trajetória e a de seus países vizinhos – com disputas políticas igualmente polarizadas, avanço de medidas econômicas similares e o crescimento de um pensamento conservador também assentado na moral. Dessas observações e vivências – no cotidiano e nas suas ações criativas -, conseguiu amadurecer a necessidade de entender-se como brasileiro e latino-americano, não uma coisa pela outra.

 

Duração

75 min

 

Classificação

14 anos

 

Ficha Técnica

IDEALIZAÇÃO E REALIZAÇÃO: Coletivo Labirinto

DIREÇÃO, DRAMATURGIA E TEXTOS: Jé Oliveira

ARTISTAS CRIADORES: Abel Xavier, Carol Vidotti, Emilene Gutierrez e Lua Bernardo (musicista)

ASSISTÊNCIA DE DIREÇÃO: Éder Lopes

INTERLOCUÇÃO ARTÍSTICA : Georgette Fadel e Wallyson Mota

DIREÇÃO MUSICAL: Maria Beraldo

VÍDEOS E PROJEÇÕES: Laíza Dantas

ILUMINAÇÃO: Wagner Antônio

FIGURINO: Éder Lopes

TEXTO ÁUDIO: Abel Xavier e Jé Oliveira

OPERADORA DE LUZ: Aline Sayuri

OPERADOR DE SOM E PROJEÇÃO: Tomé de Sousa

INTÉRPRETE DE LIBRAS: Jéssica Pereira

DESIGNER GRÁFICO: Emilene Gutierrez

WORKSHOP: Coletivo Labirinto

FOTOS: Mayra Azzi

ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO: Éder Lopes

PRODUÇÃO EXECUTIVA: Coletivo Labirinto

DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Carol Vidotti

 

Serviço

APRESENTAÇÃO “MIRAR: QUANDO OS OLHOS SE LEVANTAM”

CINE THEATRO DE VARIEDADES CARLOS GOMES

Dia 17/05 (sexta-feira) às 20h

Endereço: Rua Senador Fláquer, 110 – Centro
Santo André – SP

Gratuito

 

Mais informações em: www.coletivolabirinto.com.br

@coletivo.labirinto

 

 

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