O futebol transcende as fronteiras do mero esporte. É uma paixão capaz de unir povos, quebrar barreiras culturais e cessar conflitos. Exemplo disso é o legado deixado por Pelé, um ícone do futebol mundial que inspirou milhões de pessoas e se tornou um símbolo de união ao conseguir paralisar a guerra civil na cidade de Benin na Nigéria em 1969. No entanto, por mais que o futebol seja capaz de gerar momentos de harmonia, infelizmente, não podemos ignorar as sombras que ainda o acompanham.
Como não lembrar do fatídico duelo de Brasil e Alemanha pela Copa do Mundo de 2014 em pleno mineirão no dia 08 de julho de 2014. Vez ou outra ainda dói lembrar do placar de 7×1.
O resultado daquele jogo doeu e ainda dói, mas o que mais dói é perceber que o futebol e mundo dos esportes ainda não conseguiu estancar as marcas e as cicatrizes de uma luta travada bem antes da lei de Isabel.
Estou falando do caso do brasileiro Vinicius Junior, vítima de um novo ataque racista, no último domingo (21) na derrota do Real Madrid para o Valencia, por 1 a 0, pelo campeonato LaLiga.
O jovem jogador vem sofrendo ataques racistas e xenofóbicos frequentemente pelo campeonato espanhol. Não se trata de um caso isolado. Trata-se de um preconceito estrutural dos espanhóis. Outros jogadores, como: Ronaldo, Roberto Carlos, Daniel Alves, Samuel Eto’o, Frédéric Kanouté, Yaya Touré e Iñaki Williams também já foram vítimas dessa barbárie.
A postura de Javier Tebas, Presidente da Laliga, de tentar naturalizar a situação jogando a culpa na vítima, mostra a sua omissão e conivência com o fato ocorrido.
Nesse sentido, as marcas patrocinadoras do evento, como: Puma, Santander, Microsoft, EA Sports, Sorare e Panini não ficam atrás da postura adotada pelo Presidente. A postura reativa das marcas mostra a distância dos discursos dos relatórios de sustentabilidade com a prática das ações do dia a dia. Muito strorytelling e pouco storydoing. Nota de repúdio e de solidariedade é uma atitude medíocre das marcas.
Mas, sabe o que mais me incomoda? O Vini Junior é uma estrela do futebol, um dos melhores atletas no cenário atual e mesmo com a sua visibilidade e toda sua mídia sofre com preconceito e com a ineficácia das autoridades competentes. Se para o Vini Junior a vida é difícil, imagine para a dona Maria e para seu Zé que sofre diariamente com essas situações e não tem voz que ecoe a favor deles.
A luta contra o racismo está longe de acabar, mas continuaremos resistentes e com os punhos cerrados para virar esse placar de 7×1.
Autor: Bruno Castro. Administrador pela FIA|USP, professor de gestão do Centro Paula Souza e pesquisador convidado da USCS.