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A direita no Brasil está sem rumo após Bolsonaro ser derrotado por Lula

Reinaldo Polito Colunista do UOL

 

“A democracia é um regime de convivência e não de exclusão. Baseia-se na liberdade, como meio de chegar à ordem”.
Alceu de Amoroso Lima

Desde a redemocratização, a esquerda tomou conta da política no Brasil. A direita deu um suspiro com Collor, mas, em pouco tempo, cortaram-lhe a cabeça. Procuraram, abriram os armários, escarafuncharam e… nada. Puseram seu tesoureiro de campanha na esteira para ver se respingava nele e… nada.

Até que, ao apagar das luzes, apareceu uma Elba para salvar a lavoura da oposição. Falaram daquele bendito carro até que ficasse a impressão de ser o crime mais horrendo da história da humanidade. Cito com ironia porque, diante do que se viu nos governos posteriores em termos de deslizes, aquele motivo não passava de… nada.

Embora esse “nada” apareça mais como jocosidade, na verdade, durante as investigações, por incompetência, ou por não haver nada mesmo, os políticos de oposição a Collor não acharam um único esqueleto dentro dos armários.

Tiraram Collor da parada

Para quem não tem nada, entretanto, um calhambeque é tudo. Collor fez o pedido de renúncia, mas ninguém deu ouvidos, pois queriam mesmo era seu impeachment, já que assim tirariam seus direitos políticos por oito anos e o alijariam de toda e qualquer pretensão que pudesse ter. Mesmo assim, ele voltou ao Senado. Não estou tentando colocar uma auréola em Collor, longe disso.

Se é que essa informação possa servir para pôr a história nos trilhos, entretanto, cerca de 22 anos depois de apeado da presidência do país, o STF o absolveu das acusações de peculato, corrupção passiva e falsidade ideológica. O que está sob os holofotes nessa discussão, todavia, é o fato de ele ter sido até aquele momento o único chefe do Executivo conservador depois que os militares deixaram o poder.

Itamar Franco

Em seu lugar, entrou o vice Itamar Franco, com tendências progressistas. Bom sujeito. Grande topete. Chegado num Fusca e num fogão a lenha. Pode ser que eu me esqueça de algum fato marcante, mas, pelo que me lembro, o maior escândalo do seu governo foi ter posado para foto em cima de um palanque ao lado de Lilian Ramos, uma bonitona que estava sem calcinha.

Ah, houve outro caso. Em 1993, afastou do cargo o ministro da Casa Civil, seu amigo de longa data, Henrique Hargreaves. Ele era suspeito de ter participado de corrupção ao confeccionar o Orçamento. Foi investigado e inocentado. Por isso, Itamar o reconduziu ao cargo como se nada houvesse ocorrido. Atestado de honestidade ao próprio presidente.

FHC e Lula

Depois veio Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, partido que fingia ser adversário do PT, e ficou na Presidência por oito anos. Sua alternância no poder com o petista foi chamada por alguns de “dança das tesouras”. Foi ele também que protagonizou a luta pela reeleição, embora negue sua participação.

Fernando Henrique passou a faixa para Lula, que ficou no Palácio do Planalto por mais oito anos. Foi sucedido por Dilma Rousseff, que também foi impichada, dando lugar ao seu vice, Michel Temer. Este não está à esquerda, mas nem vamos contar, pois chegou lá pela cota petista de arranjos políticos.

Bolsonaro

Finalmente assume o primeiro presidente conservador depois da queda de Collor. Sua eleição foi uma espécie de cataclisma para as intenções esquerdistas. Não esperavam por esse percalço. Durante quatro anos fustigaram Bolsonaro de todas as maneiras possíveis.

Conseguiram minar sua imagem com ajuda de parte do Judiciário, da imprensa e de vários outros setores das atividades econômicas, sociais e políticas. Deu certo. Lula voltou ao poder. E desta vez nem se preocupou em fazer de conta que não era esquerdista, como fizera em outras oportunidades.

Conservadores de hoje

Com a saída de Bolsonaro, a direita praticamente não tem um líder para chamar de seu. Ao que parece, o ex-presidente perdeu um pouco de seu encanto. Seus seguidores, com um pé atrás, aguardam seu retorno para ouvir suas explicações. Vai ter de fazer malabarismo para voltar a encantar.

Alguns estão tentando pôr a cabeça de fora, mas a esquerda não dá chance. Ataca os adversários no nascedouro. Se Tarcísio Gomes de Freitas fizer um bom governo em São Paulo, talvez seja um nome forte. Já, já vai levar pancada de todos os lados.

E os outros?

Além dele, bem, além dele resta quem? Romeu Zema, lá de Minas. E olhe lá. De direita, direita mesmo quase ninguém. Ou aparece alguém nos próximos dois anos, ou a esquerda vai continuar a nadar de braçada. O único adversário de Lula no momento parece ser ele mesmo. Se ficasse quieto, continuaria com a faixa, sem susto.

Pelo que tem demonstrado, todavia, não consegue fechar a boca. Vira e mexe está fazendo pronunciamentos polêmicos que mais atrapalham seu governo que ajudam.

Superdicas da semana

A democracia é boa porque permite a alternância de poder
A política é a arena para quem sabe fazer política
Às vezes ganha mais quem permanece calado
Nada pode ser pior que se transformar no inimigo de si mesmo

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Sextante. “Como Falar Corretamente e sem Inibições”, “Comunicação a distância”, “Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo”, “Saiba dizer não sem magoar as pessoas” e “Oratória para advogados”, publicados pela Editora Saraiva. “29 Minutos para Falar Bem em Público”, publicado pela Editora Sextante.

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