
Foto: Sonia Soares
Por pouco, muito pouco a Igreja São Caetano, localizada no Bairro da Fundação, não veio abaixo, dando lugar para que fosse ampliado, na época o já enorme conglomerado das Industrias Reunidas Francisco Matarazzo. Quem recorda o fato é professor José de Souza Martins, (páginas 166 e 167), no seu livro Subúrbio, quando cita o artigo escrito por Claudinei Rufini na Revista Raízes, de Julho de 1991, páginas 70 a 73.
Esta Igreja é a mesma capela que em 1717 os monges beneditinos haviam construído na Fazenda São Caetano, e que a população reconstruiu em 1900, inclusive mudando o local da sua frente. Antes olhava-se para onde está a Linha Férrea, hoje a porta fica defronte para a Rua 28 de Julho.
Lendo o Livro Subúrbio, página 141 e 145, ficamos sabendo que a parte de trás desta então capela não fora destinada para fazer parte do loteamento do Núcleo Colonial Tijucuçu de São Caetano. Era um “lote reservado”, que no futuro poderia ser um cemitério ou uma praça, mas inexplicavelmente acabou sendo comercializado. Conforme páginas 155 e 156: “o dentista Dr, Samuel Eduardo da Costa Mesquita, através do ‘testa de ferro’ Antônio Manuel da Silveira Sampaio adquiriu o lote ‘reservado” 64, onde se instalou uma olaria”… “essas terr as do lote reservado sem maior esclarecimento passaram para a família de José Coelho Pamplona, que ali instalou a fábrica de sabão e graxa Pamplona, Sobrinho e Cia”. Anos mais tarde esta empresa foi adquirida pelo Comendador Francisco Matarazzo.
Essas vendas inexplicadas acabaram modificando o cenário imaginado para o loteamento, tanto que a capela ficou “espremida” entre as paredes das diversas indústrias Matarazzo. Quem via a igreja chegava a imaginar que fosse uma capela particular da I.RF.M.
Procuramos então a revista Raízes para ler a reportagem de Rufini que entrevistou a moradora Esperança, filha de Luiz Martorelli, conhecido por Gígio e dono de uma olaria. Muito querido e respeitado na comunidade, sempre era procurado para dar conselhos e resolver o que precisava ser resolvido.
O texto de Rufini nos conta que numa tarde o Otávio Tegão, que era Juiz de Paz, o procurou para dizer que seu pai, que era sacristão na igreja, descobrira que o então Padre Alexandre Grigoli estava negociando, secretamente, com alguém da Matarazzo para ceder a igreja para a indústria, e que em troca iriam construir uma igreja maior. O fato era que assim o bairro perderia sua igreja, o que desgostou os moradores que orientados pelo Gigio foram conversar com o padre, que irredutível dissera que a decisão era dele.
Gígio levou o povo então para São Bernardo para falar com o prefeito e vereadores, de onde voltaram confiantes que a decisão final era da população. Para reforçar foram ‘reclamar com o bispo’, Dom Carlos Vasconcelos Mota, arcebispo de São Paulo, que se mostrou surpreso e respondeu que o Padre Alexandre era apenas o vigário da paróquia e a igreja era propriedade da cidade, dando o caso por encerrado a favor da população.
Anos mais tarde, com a inauguração da “Nova Matriz”, no novo centro do povoado, novamente o povo da Fundação foi surpreendido ao ver que o Padre Grigoli decidira tirar tudo o que estava dentro da “Matriz Velha”, como os bancos, os santos, os paramentos e tudo mais.
Foram então correndo avisar o Gígio, que acompanhado de vários moradores foram até a Matriz Sagrada Família onde viram que a imagem São Caetano já estava no altar mór. Dizem que a conversa foi ríspida e árida. Em determinado momento, Padre Alexandre nervoso disse: “Eh Gígio! Sempre você na frente” e este respondendo que só estava defendendo o povo e a Casa de Deus que foi construída na Fundação. O padre não gostou, deu um empurrão no Gígio que revidou com um tapa na cara do sacerdote. Sem condição de chegar a bom termo pr ocuraram de novo com o bispo, que resolveu a questão, devolvendo tudo para a igreja do povo do Bairro da Fundação.
Cento e tantos anos depois a Paróquia São Caetano permanece com sua beleza e pomposidade. Já todas as Indústrias nascidas ao seu redor, seja olaria, de sabão, química, têxtil ou de cerâmica literalmente viraram pó.
 
				