Chega-se a época das festas e sentimentos diversos saltam de nossos corações. Semanas atrás percebi com intensidade essas mesclas de percepções e sentimentos ao sair de um barzinho que vou com frequência espairecer aqui na cidade, São Caetano.
Com uma amiga na direção e eu de passageira, algo não muito comum, tive a oportunidade, estar no volante, de melhor observar os prédios da cidade de São Caetano, sacadas e as luzinhas natalinas pelo percurso que ela me levava até minha casa. Parece algo bobo, mas na intensidade de pessoa que sou, em um momento como esse, aparentemente simples, rodava meu pescoço e meus olhos em direção aos prédios, diversas sacadas e acompanhava as luzinhas amarelinhas, outras coloridas refletindo sobre a época de Natal e a fé.
Até comentei com ela, Maidole seu nome, uma pessoa que muito estimo, de sensibilidade aguçadíssima como a minha, coração imenso, que consegue filosofar comigo como devaneios, como era estranho o sentimento daquele instante, a diferença que se sente olhando luzinhas quando criança, e hoje adultos. Olhar o mundo com olhar infantil é bom, puro, luzinhas nos lembram papai noel, presentes e felicidade além de darem um ar de magia. Já quando adultos, muitas vezes causam saudade, nostalgia e refletimos sobre a fé. É nessa época também que percebo que podemos ganhar mil presentes materiais, sermos ricos, milionários, mas o sentimento e período de reflexão atinge a todos desde a ausência de alguém a montar a árvore, a ceia, ou a família que não se une mais da mesma forma independente do motivo. Algo estranho acontece conosco. Claro, muitos traumas estão relacionados a infância.
A psicanálise nos deixa claro isso, trazemos do inconsciente até adultos uma caixa oculta que principalmente se fazemos análise, subimos a consciência e resolvemos. Mas observe, algo novo houve nos últimos anos, a pandemia que mexeu na caixa da consciência da mente, nem recalcou, está ainda sensível e nos deixou com inseguranças sobre o futuro e fé. Freud, pai da Psicanálise, deixou uma colocação que reflito por vezes: “Religião é muleta para se ter fé”. Descreveu o conceito de Deus como uma projeção do desejo infantil de proteção por um pai todo-poderoso e a acrescentou que “a religião é uma tentativa de controlar o mundo sensorial, no qual estamos situados, por um mundo que desejamos que é desenvolvido dentro de nós como um resultado de anormalidades biológicas e psicológicas.” Muitas vezes reflito sobre a fé e o ateísmo de Freud e associo aos nossos tempos de Pandemia. O que seriamos de nós sem a fé?
Carl Jung, pupilo de Freud, seria seu principal seguidor acabou criando a Psicologia Analítica e abandonando a Psicanalise justamente por crer que exista algo superior, a sincronicidade do Universo, as “luzinhas por aí” que sincronizam com a alma e universo, a fé. Para ele a cura do ser humano ocorre em sermos somente outro ser humano independente de teorias ou técnicas. Que as luzes natalinas que brilham das sacadas dos prédios de sua cidade e te transmitam fé. Se causarem nostalgia, que te traga uma boa lembrança.
Que a sua própria luz permaneça acesa, seja qual for o seu momento neste fim de ano. Não importa a religião,
teoria que creia, que sua própria luz te preencha, abrace e você se torne consciente que a cura de si ou outro ser humano se dá simplesmente sendo outro ser humano. “Ser humano” é levar luz sendo simplesmente humano.
A luz está dentro, não fora. A cura também.
Erika Martinez
Erika Martinez Comunicologa, Psicanalista e Dermopigmentadora Paramédica.