Serão os apoios de Bolsonaro ou os votos de Lula que darão a vitória?
Largada para o segundo turno
Reinaldo Polito
Colunista do UOL
11/10/2022 04h00
O que tem sido acreditado por todos, e sempre, e em toda a parte, tem toda a probabilidade de ser falso.
Paul Valéry
Os lulistas estão exultantes. Afinal, embora não tenham mvencido as eleições no primeiro turno, como esperavam, chegaram bem à frente do adversário – 5 respeitáveis pontos percentuais, 6,1 milhões de votos. É uma vantagem excepcional.
Cerca de dez governadores já eleitos definiram apoio a Lula. Mesmo não sendo estados tão populosos como os que cerraram fileira com Bolsonaro, são altamente representativos. Basta o ex-presidente não errar na campanha que no dia 30 poderá levantar a taça.
Bolsonaristas esperançosos
Os bolsonaristas estão felizes. Ainda que tenham amargado o segundo lugar, com ampla diferença a favor do oponente, os apoios que receberam dos governadores vencedores e quase eleitos foram surpreendentes. Para muita gente, até um grande diferencial. Julgam que assim poderão virar o jogo.
Só para citar alguns dos mais importantes colégios eleitorais do país que resolveram caminhar com Bolsonaro: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás e Paraná. Outros, que ainda não venceram, mas possuem palanques vigorosos para o presidente: Bahia, Rio Grande do Sul, Rondônia, Mato Grosso do Sul, Amazonas. Por falta de aliança é que o chefe do Executivo não pode reclamar.
Cada um com sua crença
Temos, assim, um curioso cenário. Lula confia na vitória porque conseguiu mais votos. Bolsonaro acredita na reeleição por causa dos apoios. Agora, nesses vinte e poucos dias de corrida eleitoral, o que conta mais para o candidato vencer o pleito? Quem nos pode responder a essa pergunta é o vice de Lula com a sua própria experiência como antigo pretendente ao cargo de presidente.
Os votos do primeiro turno não se repetem necessariamente no segundo. Quando concorreu à presidência em 2006, Alckmin obteve quase 40 milhões de votos no primeiro turno. Na disputa do segundo turno, além de não conseguir ampliar o número de eleitores, perdeu cerca de 2 milhões, com resultado final inferior a 38 milhões. Ou seja, nenhum candidato poderá garantir que as mesmas pessoas que votaram em seu nome voltarão às urnas com a mesma intenção.
Alerta para Lula
Essa história serve de alerta para Lula. Como vimos, embora o petista seja muito diferente do seu vice, nada garante que os 57 milhões de votos que recebeu estarão à sua disposição no próximo dia 30. Há risco, sim, de que alguns possam bandear para o outro lado. E é lógico que o contrário também é verdadeiro.
Apoio de políticos e partidos nem sempre se transformam em votos. Vamos recorrer ao mesmo Alckmin para pôr umas pulgas atrás da orelha de Bolsonaro. O ex-governador paulista concorreu ao cargo de presidente também em 2018. Por ser um político experiente, foi atrás de coligações e apoios para conquistar boa votação. E se deu bem nessa empreitada.
Em pouco tempo, logo após a convenção do partido, o candidato pelo PSDB mostrou força e muita vitalidade, pois havia convencido oito partidos a se coligarem a ele. Parece que estou vendo sua comemoração de vitória para ir ao segundo turno em um belo jantar familiar com Dona Lu.
Alerta para Bolsonaro
Abertas as urnas, porém, Alckmin descobre que, mesmo estando tão “bem acompanhado”, conseguiu apenas 4,76% dos votos. Ficou no mesmo pacote dos candidatos que amargaram a rabeira, Marina Silva, João Amoêdo e Cabo Daciolo. Uma tremenda decepção. Portanto, apoio é bom, mas não garante vitória nas eleições.
Por isso, tanto Lula quanto Bolsonaro precisam buscar os votos com muito empenho e dedicação, pois, se dependerem apenas daqueles já conquistados no primeiro turno e nos apoios conseguidos nesse início de campanha, talvez tenham surpresas negativas assim que as urnas se abrirem.
Buscando apoios ou tentando manter os votos conquistados, os dois candidatos dependerão muito da oratória para atingir seus objetivos. Quem tiver mais habilidade para se comunicar com o eleitorado dará um passo à frente para desqualificar o adversário, recurso normal até esta fase da campanha, e apresentar seus projetos de governo.
História boa para Lula
Um alento para Lula. Esta é a sétima vez que as eleições presenciais vão para o segundo turno. Em nenhum desses pleitos um candidato conseguiu virar o resultado. Quem venceu no primeiro turno conquistou a cadeira presidencial no segundo. Como, entretanto, sempre tem a primeira vez, não custa nada o petista botar a barba de molho. Nunca se sabe.
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