Artigo

Depressão

José Antonio Mariano

A depressão é companheira malquista do homem desde sempre. É, portanto, quase inconcebível que permaneça enevoada por estigmas imprudentes, constatações levianas, diagnósticos de esquina e “curandeiros” da dor dos outros, que só fazem expandir o véu de incompreensão e obtusidade sobre a mesma.

A pessoa deprimida vive imersa numa espiral de dor e sofrimento, num “ser sem sentido” e numa obscuridade latente – e latejante – que a faz enxergar a vida em tons de chumbo, numa metáfora de vida que se esvai feito cinzas.

Da distimia, a forma mais “leve” da patologia, até a depressão maior (o nome entrega); um sentimento comum une todo o espectro depressivo: o ódio. O psiquiatra Jeremy Holmes diz que o deprimido odeia o ódio que sente por si por estar deprimido.

A meu ver, o ódio do deprimido por si mesmo ocorre em função das sucessivas e constantes concessões que faz aos outros, o que corrompe sua autoimagem, tornando-o indigno de cultivar o auto-respeito. Sem auto amor, ele se desconecta de sua essência e sem essência morre antes de morrer.

Churchill, filho de um pai inflexível e uma mãe ausente, chamava sua depressão de “cão preto”, sugerindo a única cor possível associada a enfermidade. Escuridão; vazio; medo; desesperança mais a sensação de um profundo “não ser”; um corpo sem a âncora emocional do espírito, a um passo de sucumbir ao suicídio.

Isso é depressão. Não é uma questão de vontade, disposição e apreço pela vida. É fator neuroquímico. Compreensão, antidepressivos e psicoterapia são essenciais. Conselho fúteis, crítica e desrespeito pelos sintomas são letais.

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