Editorial – A nobreza plebeia
Parece-nos viver ainda sob o simulacro de arcaica regência nobiliária ungida por algum deus sarcástico e sectário a atribuir benesses aos seus preferidos. Caracteriza-se, o fato, da casta atual não decorrer de direitos de sangue perpétuos como antanho, porém, da capacidade de comprar consciências.
Até o Século XVIII a nobreza atribuía-se “direito divino”. Príncipes e princesas tão inúteis quanto abjetos sucediam reis e rainhas idem. E a plebe beócia e bovina os venerava, por medo do poder ou êxtase doentio. Desde a Revolução Francesa, contudo, as tiranias “celestiais” passaram a perder as cabeças.
Temos hoje formas diferentes para os mesmos conteúdos. Setores abastados da “ralé” assumiram o papel de nobrezas plebeias, sob a égide dos “pixulecos”. Seguem comprando títulos, cargos e perdão por seus pecados. Quem tem mais, chora menos.
O negócio das indulgências sempre foi muito lucrativo, seja para fugir do Inferno na Idade Média ou das leis, nos tempos atuais. A pompa extravagante de tribunais são resquícios de outras eras. A adesão aos poderosos, também!