Editorial – Chumbo trocado não dói

 Fuçando pelos noticiários, encontramos fatos quase desapercebidos, por exemplo, a notícia de que a Noruega proibiu a Arábia Saudita de financiar mesquitas no país, enquanto não permitirem a construção de igrejas lá, “dando um passo importante para defender a Europa do totalitarismo sob disfarce islâmico”. Aparentemente, teme-se mais a fragilidade dos noruegueses ante uma religião absolutista que os atentados do Estado Islâmico. Claro: é mais fácil causar uma metafísica pendenga política, que caçar terroristas armados até os dentes e muito perigosos…   Nestas paragens, dias após a catástrofe ambiental de Mariana, bondosamente a presidente Dilma Rousseff soltou o Decreto 8.572/2015, que dispôs sobre a liberação do FGTS pelas vítimas, o que antes só podia ser feito ante desastres naturais. Rompimentos de barragens precárias feitas por multinacionais, assim, deixam de ser produto de ganância e descaso criminosos, virando “desastre natural”… Tal benesse, todavia, visa fazer que as vítimas de crime ambiental paguem as contas dos próprios prejuízos. Claro: a Vale e a BHP Billiton, donas da Samarco, penhoradamente agradecem. E daí? Se sua cidade estiver um lixo, suja, pichada, invadida por mendigos, insegura e decadente, podem botar a culpa na guerra contra o terrorismo, ou considerar desastre natural, inevitáveis: algum otário acreditará.E acabou-se o ano…