É o seguinte: com a descoberta de armas de ferro velho acolá, algumas bananas de dinamite aqui, prisão de uns pés de chinelo ali, explosões de caixas eletrônicos por todo lado, bala e pancada comendo solto em cima do cidadão por toda a parte, não há com que preocupar-se, segundo a Secretaria de Segurança paulista. A criminalidade vai bem e a bandidagem está com seus direitos humanos garantidos. Já que a presidente, seus ministros e alugados dizem que a crise é passageira e a culpa é internacional, que em seu governo não há e que é intransigente com a corrupção, que não há inflação e nem desemprego, que a saúde e o ensino públicos estão supimpas, etc., etc. etc., também não devemos preocupar-nos: somos uma democracia adolescente, logo passarão espinhas purulentas, rebeldias hormonais e chiliques metafísicos. Afinal, estamos no país do futuro há séculos, na terra da ordem e progresso, da pátria mais garrida e de pulso forte… Claro: a autocensura e o pudor nos impedem de dizer o que anda fazendo o tal gigante eternamente deitado num berço que já foi esplêndido. Enquanto isso, por não existirem oposições consequentes, líderes capazes e eleitorado consciente, esqueçamo-nos da vaca tossindo e indo pro brejo: é invenção da imprensa, que não tem o que fazer. De nada serve fazer barulho e entender de ratos, não havendo sequer a coragem e a disposição de cassá-los. Certo?
